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quinta-feira, 13 de julho de 2017

Apostando no docudrama, "Real" conta a história do plano econômico de 1994


O time econômico de Itamar Franco na encenação do filme

O público do Cinema Falado provavelmente não sabe, mas eu me afastei da crítica de cinema e da TV Cultura, entre 1995 e 2003, quando trabalhei no Ministério da Cultura, durante a gestão de FHC. Para apoiar meus professores e colegas, como Francisco Weffort, José Alvaro Moises e Otaviano De Fiore, interrompi uma atividade à qual me dedico há exatos 44 anos - de modo que acompanhei de perto o que se chamou de “retomada do cinema brasileiro”, bem como a implantação da Lei do Áudio Visual e do Plano Real. Para evitar que confundissem a minha opinião como propaganda, deixei para comentar o filme "Real - O Plano Por Trás da História" agora que ele já saiu de cartaz.
O filme dirigido por Rodrigo Bittencourt e produzido por Marco Audrá, que luta para dar continuidade a empresa que foi criada nos anos de 1950 pelo seu pai, Mario Audrá. Marinho, como era chamado por todos, foi talvez um dos empresários da história do cinema nacional que mais apaixonadamente se dedicou a ele. Um produtor que entregou sua saúde, sua existência e sua alma à Cinematográfica Maristela – cujos filmes, aliás, foram todos exibidos aqui na TV Cultura, como "Arara Vermelha", "Mãos Sangrentas" e "Leonora dos Sete Mares".

Não se trata de um documentário, nem de uma obra de ficção hollywoodiana, como o cinema americano costuma fazer, digamos, à granel. É na verdade uma mistura dos dois, se encaixando numa espécie de híbrido entre essas duas modalidades. Um gênero híbrido que o monumental cineasta inglês Peter Watkins chamaria de docudrama – que ele definiu como “o tratamento dramático dos dados e das informações”. Ele fez docudramas essenciais como "War Games" em 1965, "A Comuna de Paris", em 2000, e "Eward Munch", em 1973. Detalhe é que Peter Watkins está agora com 82 anos, mora na Lituania e mantem um site pessoal na internet.

O diretor Rodrigo Bittencourt (esq,) e o ator Emílio Orciollo Neto (Gustavo Franco, dir.)
Curiosamente, a ideia do docudrama surgiu quase ao mesmo tempo, na Inglaterra e na Itália, no momento em que televisão europeia começava a se estruturar, em busca de uma linguagem própria. Enquanto o inglês Peter Watkins trabalhava adaptando fatos históricos e jornalístico para a ficção televisiva, Roberto Rosselini fazia o mesmo em seu país. Entre 1966 e 1974 ele passou para a telinha as biografias de mais de 10 personagens históricos, entre os quais Luis XIV, Santo Agostinho, Descartes, Os Médici Blaise Pascal e Sócrates  

Os docudramas não são narrativas dotadas de recursos dramáticos típicos do cinema comercial, mas se preocupam com a fidelidade aos acontecimento. Elaboravam o que poderia ser visto como uma história factual, ou seja, econômica, em termos de análises e interpretações – mesmo que recorram a um protagonista para amarrar os episódios do roteiro. Isto é e um “modus operandi” muito semelhante ao que fizeram Rodrigo Bittencourt e sua equipe em “Real – o Plano por trás da História".

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