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sábado, 3 de dezembro de 2016

Perturbador e agressivo, Paul Verhoeven volta aos cinemas com "Elle"


Isabelle Huppert é a protagonista do novo filme de Verhoeven

Chega aos cinemas mais um controvertido trabalho do holandês Paul Verhoeven, muito procurado na recente 40ª Mostra internacional de São Paulo. Há mais de 20 anos aquele cineasta lançava “Instinto Selvagem”, focalizando uma figura feminina que impactou o publico da época pela agressividade sexual e por conta de um componente de conotação maligna em sua personalidade. Sharon Stone cruzava e descruzava as pernas, atribuindo assim uma marca gestual para a sua personagem demoníaca. Aliás, muito menos ambígua e assustadora do que esta Michele, interpretada por Isabelle Hupert. Na comparação com a francesa, aquela mulher fatal americana mais parece uma santinha de colégio interno.
Com o desconcertante “Elle”, o cineasta holandês elaborou uma das maiores sensações da 40ª Mostra. O filme não permite classificação, embora seja geralmente rotulado como “de suspense”. No entanto, são tantas as risadas que ele provoca que se encaixaria também como comédia, ou melhor, uma farsa de humor negro. Um dos parâmetros trabalhados no roteiro é de fato o cinema de Hitchcock, numa referencia mais clara pelo uso da trilha sonora e pela ambientação predominantemente noturna. Mas uma breve reflexão sobre a protagonista nos leva a concluir que estamos diante de um estudo sobre a dualidade humana.


No que se refere à Michele, encarnada por Isabelle Hupert, nada é o que parece ser. Ela é estuprada, dentro de casa, na primeira cena do filme e já surpreende com a frieza de sua reação. Em vez de se queixar à polícia (o que é o mais devido), faz apenas um exame de sangue para ver se foi contaminada. Mais tarde, se masturba ao espreitar um jovem vizinho pela janela. E tem um caso com o marido da melhor amiga, ainda que mantenha uma aparência diáfana e quase assexuada que, de fato, lembra as loiras de Hitchcock. É generosa com a mãe e o filho, embora costume humilha-los diante de todos. E assim por diante, essas oposições reunidas nessa mesma personagem se sucedem, diversas vezes ao longo do filme. Até alcançar o supremo e sintético paradoxo de uma pessoa que é, ao mesmo, tempo vítima e agressora. 

"Elle" trata da dualidade humana em estilo de lembrar Hitchcock

Por meio desse estratagema ficcional, numa dramaturgia totalmente anti naturalista, a personagem central do filme “Elle” consiste numa construção abstrata que exprime os aspectos contraditórios do universo feminino. Isto é, os arquétipos opostos de Eva e de Lilith.

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