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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Em" Infância", recordações verdadeiras se misturam com as versões poeticas do passado

Domingos de Oliveira continua filmando “Todas as Mulheres do Mundo”. Só que, em lugar de suas namoradas, Leila Diniz e Joana Fomm, como ele fez em 1966, meio século mais tarde aparecem as lembranças de sua mãe e sua avó no filme Infância.

Trata-se da própria infância do cineasta, tal como ele se recorda do tempo em que ainda não completara 10 anos e vivia num casarão senhorial dos avós. Num tempo em que Carlos Lacerda ameaçava a estabilidade do governo Vargas e os pais Paulo Beti e Priscilla Rosenbaun moravam na casa da matriarca Fernanda Montenegro. Ela não descolava o ouvido do rádio, quando Carlos Lacerda falava. Num momento notável do filme narrado pelo próprio Domingos, ela se assusta ao olhar o rosto do neto e ver ali os olhos do marido morto.

Assim como fez Fellini em “Amarcord”, as recordações verdadeiras se misturam com as versões poéticas do passado. E por entre os fantasmas que evocam as imagens do tio histérico, do odioso primo mais velho e da tentadora copeira, sobressaem as figuras dominantes da mãe e da avó – insuportável e fascinante.

Na descrição de todos esses tipos, desenhados de forma vívida e carinhosa, é inevitável uma comparação com a maneira marcada por Nelson Rodrigues em suas narrativas familiares. Uma ironia adocicada pelas três décadas de diferença nas idades dos dois escritores e pela influência das obras de Luchino Visconti, que Domingos pode ter assistido de mãos dadas com algumas das moças aqui mencionadas.


Ao som de Francisco Alves cantando “Boa Noite Meu Grande Amor”, a reunião termina com uma foto posada de toda a família, como costumava acontecer nos dias de festa, e permitindo que Domingos agradeça de viva voz a essa arte sem a qual não haveria filmes de época.

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