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terça-feira, 18 de março de 2014

"O Grande Herói" e "Alemão", diferentes um do outro, mas com alguma coisa em comum.

Nesta 5ª feira será lançado o filme americano “O Grande Herói”, produzido e protagonizado por Mark Whalberg, um docudrama sobre a vida real de Marcus Luttrell que, em 2005, foi escalado para integrar um grupo de 4 soldados da Marinha com a missão se matar um líder da Al Qaeda. Para isso, eles precisavam “apenas” desembarcar de helicóptero numa montanha do Afganistão, caminhar até uma aldeia lotada com centenas de talibãs, executar o terrorista e voltar pra casa. Só que, logo de cara uma cabra denunciou a presença dos americanos e a heroica turminha viu-se vivendo uma situação parecida com aquela antológica piada de José Vasconcelos na qual o caubói John Wayne, ao se encontrar cercado por milhares de índios, não teve alternativa senão tornar-se ele próprio um índio. 
Estou mencionando este filme para falar de outro: o brasileiro “Alemão” de José Belmonte, em que Caio Blat, Milhem Cortaz, Otávio Müller e Gabriel Braga Nunes são policiais infiltrados no morro do Alemão no dia em que aquela favela foi invadida pela polícia. Trata-se de outra situação equivalente que o diretor de “Se Nada mais der Certo” (2008) desenvolve com extrema competência. A perseguição de moto pelas vielas do morro, por exemplo, já revela o seu domínio sobre a ambientação e o ritmo da história. A maior parte deste drama, porém, se desenrola dentro do esconderijo onde os policiais tentavam se proteger e isso acaba trasformando a narrativa numa espécie de peça teatral, com a densidade de “Entre Quatro Paredes” de Jean Paul Sartre.
Sem a estatura da marca “Tropa de Elite” criada por José Padilha, este “Alemão” de José Belmonte marca o abandono pelo diretor daquele tom positivo e esperançoso que vimos em “Se Nada mais der Certo”. O roteiro, no entanto, mantem a proposta de cruzar as linhas da trama, ou seja, de entrelaçar as trajetórias abordadas pelo filme, isto é, misturar os problemas individuais com as questões sociais e políticas: os romances secretos e as articulações palacianas. Antônio Fagundes interpreta o delegado, provavelmente fictício, que teria concebido o projeto inicial de ocupar de surpresa o complexo do Alemão em novembro de 2010. Numa cena, ele mostra a sua contrariedade de ter o seu plano incorporado pelo governo, sem o cuidado que merecia. 
De outro lado, o chefe do tráfico vivido por Cauã Reymond precisa fingir que não se abala ao saber que a mãe do seu filho se acha presa, por acaso, no mesmo esconderijo em que um grupo de policiais infiltrados no morro como informantes se acha entocado. Essa miniatura da vida humana nas cidades é desenhada pelo filme como uma antecipação do inferno, em todos se colocam contra todos, mesmo sem perder a capacidade de manifestar afetos, medos e simpatias. Um universo de perigo e violência do qual não existe fuga possível, nem para o matagal que cerca o morro do Alemão e que, pacientemente, espera o dia em que será trocado por mais algumas centenas de barracos. O diretor nos revela que o tema do filme é o sacrifício dos homens, mas, poderíamos acrescentar que é também o da vida sobre a terra.
ALEMÃO 

Brasil, 2013, 109 min, 16 anos
gênero docudrama/ policial
Distribuição Downtown Filmes
Direção José Eduardo Belmonte
Com Caio Blat, Milhem Cortaz, Otávio Müller, 
Gabriel Braga Nunes, Antonio Fagundes, Cauã Reymond
COTAÇÃO
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B O M

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