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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Em " Lobo de Wall Street", o veterano Martin Scorsese filma com a ginga de um garoto.

No meio do filme, alguém cita “Wall Street” (1987) de Oliver Stone, comparando o fictício tubarão Gordon Gekko (Michael Douglas) com a figura verdadeira do estelionatário Jordan Belfort, interpretado em "O Lobo de Wall Street" por Leonardo DiCaprio. Por meio desse diálogo, o diretor Martin Scorcese enfatiza que a realidade pode ser muito mais mirabolante e inacreditável que a ficção. 
O roteiro se baseia em livro escrito pelo protagonista que, no final dos anos de 1980, começou como corretor da Bolsa de Nova York, cínico e agressivo como tantos outros, para se tornar uma fera insaciável movida a drogas e conversa fiada, capaz de vender qualquer coisa para qualquer um, a qualquer momento. Tornou-se milionário, envolveu-se em crimes financeiros, foi preso, virou conferencista, consultor, escritor e agora é figurante neste filme que conta a sua própria vida. Nesse sentido, há uma curiosa afinidade com “Meu nome não é Johnny” (Mauro Lima, 2008), em que Selton Mello encarna um notório ex-traficante carioca agora transformado em produtor musical. 
Já Scorsese parece empenhado em retratar um Charles Foster Kane do nosso tempo – tão alucinado quanto inteligente, como o original – mas, na verdade elabora um oportuno painel do capitalismo atual, em que a loucura facilmente se disfarça de racionalidade. Para isso, o tom escolhido é o da comédia, na qual o diretor exibe um timing impecável, disparando uma piada atrás da outra e comentando a própria narrativa pela voz em off do protagonista – uma espécie de boneco de corda, viciado em cocaína, metaqualona e tramoias empresariais. 
Algumas passagens resultam de fato muito engraçadas, especialmente aquelas em que DiCaprio contracena com o sócio aloprado (Jonah Hill) e a escultural namorada (Margot Robbie) que toma vinho de canudinho. Deve-se reconhecer, aliás, que o astro de “Titanic” (1997) explora o máximo de seu potencial humorístico, aventurando-se por um caminho que já foi de exclusivo de Cary Grant (“Ladrão de Casaca”, 1955) e David Niven (“Pantera cor de rosa”, 1963). Os parceiros do empresário funcionam como um time de trapalhões, ridículos porém simpáticos, sempre discutindo as coisas mais idiotas com a aparência de complexas estratégias. 
O seu ambiente de trabalho parece uma eterna despedida de solteiro, enquanto os policiais que o vigiam passam anos em investigações burocráticas e inúteis, à espera de uma imprudência intransponível do “suspeito”. No final, como que para uma última referência ao humor que pode existir dentro dos piores criminosos, temos uma impagável paródia ao gênero do melodrama. Resumindo, neste embrulho de farsa e vida real, os bandidos são cômicos, enquanto os homens da lei não têm a menor graça. 
O LOBO DE WALL STREET 

The Wolf of Wall Street
estreia 24 01 2014
gênero comédia/ história
EUA, 2013, 179 min, 16 anos
Distribuição Paris Filmes
Direção Martin Scorsese
Com Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie
COTAÇÃO
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Ó T I M O