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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Em "A Caça", o dinamarquês Thomas Vinterberg discute o mito da inocência infantil


Injustamente, uma garotinha acusa de assédio sexual um adulto que, em seguida, tem a sua vida destroçada. Em “A Caça”, o personagem é interpretado por Mads Mikkelsen, ganhador do prêmio de melhor ator em Cannes com a atuação neste filme do dinamarquês Thomas Vinterberg, indicado para a Palma de Ouro em 2012. O mesmo tema ocupa posição central em “Desejo e Reparação”, do inglês Joe Wright, vencedor do BAFTA e do Globo de Ouro em 2008. Naquele mesmo ano, “Dúvida” do americano John Patrick Shanley abordava assunto semelhante e concorria a cinco Oscars. Na verdade, a figura do inocente injustiçado aparece em muitos outros enredos de cinema. O fato de Hitchcock ter usado a rotina do “innocent bystander” em dezenas de roteiros comprova uma potencialidade dramática que remonta à base da cultura judaico-cristã, na imagem do cordeiro de Deus. 
O cinema de Thomas Vinterberg, entretanto, permanece integrado a uma opção estética explicitada desde sua participação no Dogma95, como um dos fundadores daquele movimento que recusava esquemas cristalizados de dramaturgia, bem como qualquer forma de artificialismo. Em “Festa de Família” (1998) que foi o primeiro sucesso de público obtido pelos “monges cineastas”, ele já desnudava o mito da harmonia social na civilização nórdica, ao revelar a podridão escondida na elite do país. Em “A Caça”, no lugar de um vasto grupo de personagens, ele concentra o foco nos parcos habitantes de uma vila do interior, como quem recorre a uma maquete para deixar mais claro determinados aspectos de uma construção. 
É que vemos também em o “Amante da Rainha”, outro projeto recente com o mesmo Mads Mikkelsen: drama político e sentimental sobre o Reino da Dinamarca, tal como aquela nação atravessou o período do despotismo esclarecido, na segunda metade do século XVIII. Se acrescentarmos a estes títulos outros exemplos, como “Em um mundo melhor”, Oscar de melhor filme estrangeiro de 2011, poderemos concluir que o cinema do país de Hamlet, em lugar da ideia do “bom selvagem” proposta por Jean-Jacques Rousseau, optou pela metáfora do homem como “lobo do homem”, criada pelo dramaturgo romano Plauto (século III A.C.) e popularizada pelo filósofo Thomas Hobbes (século XVII).

A CAÇA 
Jagten 
Dinamarca, 2012, 115 min, 14 anos
estreia 22 03 2013
gênero drama/ social/ psicológico
Distribuição Califórnia Filmes
Direção Thomas Vinterberg
Com Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Annika Wedderkopp
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

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