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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A comédia "O ditador" Sacha Cohen não é tão boba e superficial quanto pode parecer


Em “O ditador”, Sacha Baron Cohen modifica o estilo de comédia que vinha oferecendo em filmes anteriores como “Borat” (2006) e “Bruno” (2009), ou seja, a linha do falso documentário, em que pessoas comuns e inocentes, quase sempre amadores, eram atraídas para contracenar com ele em centenas de pegadinhas de mau gosto. Desta vez ele faz piada com a figura do déspota General Aladeen, um ditador atual que representa uma paródia-síntese de personagens reais, numa mistura em que prevalece o estilo truculento e cruel de Idi Amim, Kadafi e Assad, temperada por uma barba tipo Bin Laden. Apesar da grossura geralmente escatológica da maioria das gags, o filme é de fato engraçado, principalmente pelo cuidado com que ele constrói a sua criatura, mais ou menos como Chico Anísio fazia com seus personagens. Ou seja, dotando-lhes de uma palpável credibilidade que vinha da coerência entre os diversos elementos com os quais eram elaborados: o gestual, a voz, o sotaque e a maneira de se expressar, por exemplo, tinham tudo a ver com o seu modo de agir, de andar e de se vestir. 
Mesmo quando o pomposo Aladeen se achava despido daquele uniforme branco e ridículo com o qual Sacha tentou assistir a última cerimônia do Oscar. Na ocasião, aliás, ele foi barrado, porque a Academia concluiu (com razão) que aquela atitude seria uma ação promocional para o filme. Além disso, ele decidiu contratar intérpretes profissionais, investindo assim no desenvolvimento de “escadas”, isto é, de personagens auxiliares, ou coadjuvantes, que lhe servem de contraponto -- como um físico nuclear (Jason Mantzoukas), uma ativista ecológica (Anna Faris) e um tio (Ben Kingsley) que planeja tomar o poder e instaurar uma “democracia, corrupta como as ocidentais”. Apesar de também desenhar a caricatura de um tirano, o filme tem pouco a ver com seu quase homônimo (O Grande ditador - 1940), obra de Charles Chaplin. Mas, ambos incluem em sua parte final um discurso calcado na lógica do absurdo. 
Enquanto o de Chaplin elaborava uma língua esdrúxula, o de Sacha injeta uma alta dose de ironia, voltando a mira de seu canhão satírico para o sistema americano, ao fazer a defesa de seu próprio regime antidemocrático: “Imaginem se a América fosse uma ditadura... Vocês poderiam ignorar as necessidades dos pobres em termos de educação e saúde. Poderiam grampear telefones... Torturar prisioneiros estrangeiros. Ou mesmo mentir para justificar uma guerra. Encher as prisões de um grupo racial em particular que ninguém iria reclamar. Ou usar a mídia para assustar a população até que ela apoie políticas contrárias a seus próprios interesses”. A comicidade de Sacha pode não ser elegante como a de Tati, nem refinada como a de Chaplin, mas, certamente também não é boba.
O DITADOR 

The Dictator 
EUA, 2012, 94 min, 14 anos.
estreia 24 08 2012
gênero comédia / política
Distribuição Paramount Pictures 
Direção Larry Charles 
Com Sacha Baron Cohen, Anna Faris, Ben Kingsley
COTAÇÃO
***
BOM


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