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domingo, 29 de abril de 2012

Como se explica o estrondoso sucesso deste novo filme sobre "Os Vingadores"?


Talvez o maior desafio que se apresenta ao roteirista seja o de promover a identificação entre o público e o personagem central, isto é, criar e manter o interesse acerca de suas ações, dentro da trajetória para ele desenhada. No caso de “OsVingadores”, o próprio diretor Joss Whedon (“Toy Story” – 1995) precisou se apoiar na experiência de Zack Penn (“O Incrível Hulk” - 2008 e “X-Men” - 2003) para lidar com sete protagonistas. Foi um trabalho diferente, por exemplo, do que se fizera com os sete anões na animação Branca de Neve, na qual todos eles são coadjuvantes. E mesmo com “Os Sete Samurais” (Akira Kurosawa – 1954) em que o protagonista é o líder, interpretado por Takashi Shimura.

Não há fórmulas para garantir a mencionada identificação, mas existem alguns cuidados básicos a serem tomados, especialmente quando se trata de figuras quase indestrutíveis como os super-heróis. Vários séculos antes de Cristo, Homero já tomava o cuidado redigir a lenda de Aquiles, dotando-o de um calcanhar onde sua invulnerabilidade não funcionava. Ou seja, sem uma fratura interior, ou um ponto fraco que o torne semelhante aos humanos, não há como o expectador manter a curiosidade por alguém cuja vitória é inevitável.

Neste filme, portanto, Whedon e Penn, se encarregam de orquestrar uma coleção de fragilidades psíquicas e contradições internas que acabam por se tornar a verdadeira história a ser contada. O argumento que lemos na sinopse serve apenas para alinhavar esse coquetel de conflitos: Loki, o semideus nórdico e contraparte maligna de Thor ativa um portal cósmico para permitir a invasão da terra por uma raça de seres míticos e mortíferos. Como esse ataque se inicia por Nova York, foi notada aí uma alusão ao dia 11 de setembro. Pode ser, mas a essência do espetáculo se encontra na arena em que se defrontam os hiper superegos e as formidáveis neuroses de cada um.

Foi preciso estabelecer, no entanto, uma hierarquia entre os protagonistas, tal como aparece no cartaz do filme: em primeiro plano, estão os antagônicos – Thor e o Homem de Ferro. Em segundo plano, vemos o Falcão e a Viúva Negra, ambos perigosamente próximos do mal e, por isso, os mais ambíguos. Ela uma ex-espiã russa e ele que teve a mente temporariamente controlada pelos inimigos. Ao contrário do que ocorre na obra citada de Kurosawa, Nick Fury o líder do grupo, se situa atrás dos demais.

Acertadamente, porém, todos os elementos do espetáculo, inclusive as passagens de pura ação e efeitos especiais, se colocam em função desse núcleo dramático, como meros efeitos de seu desenvolvimento. Uma das sequencias mais visualmente arrebatadoras obedece rigorosamente a essa norma: do topo de seu edifício em Manhattan Tony Stark se atira ao ar sem armadura, mas, ela se instala em seu corpo, à medida que ele vai caindo e passando pelos pavimentos do prédio. Originário do mundo sobrenatural, em outra cena Thor entra em choque com os valores terrenos do Homem de Ferro, numa sarabanda de marteladas verbais que confirmam o nosso ponto de vista. Ele pergunta: “o que seria você, se não fosse essa armadura?”. Ao que Tony Stark responde: “Apenas um bilionário, playboy, gênio e filantropo”. Em resumo o que salva o mundo dos super-heróis, pelo menos neste filme, é o roteiro de Whedon e Penn, com seus diálogos saborosos e cortantes – como o escudo do Capitão América 

OS VINGADORES - THE AVENGERS 3D
EUA, 2012, 136 min, 12 anos
estreia 27 04 2012
gênero / aventura / ficção / quadrinhos
Distribuição Disney
Direção Joss Whedon
com Robert Downey Jr., Chris Evans, Scarlett Johansson,
Mark Ruffalo, Jeremy Renner e Chris Hemsworth
COTAÇÃO
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ÓTIMO

domingo, 22 de abril de 2012

Parabéns ao Cine Olympia de Belém do Pará, pelos seus cem anos de vida!


Nossa homenagem a uma sala de cinema que completa 100 anos de idade no próximo dia 24 de abril. É o cinema Olympia, situado no centro de Belém do Pará. Em 1912 os cinemas da cidade eram barracões com bancos corridos e um lençol como tela. Mas no Olympia a sala de espera, era decorada com mármore de Carrara, com uma “banda de música” e um placar anunciando que parte do filme estava sendo projetada. O luxo do Olympia foi desaparecendo com o tempo e em 1946 foi vendido para Luis Severiano Ribeiro, dono de um circuito nacional. Mas Ribeiro só reformou o Olympia em 1960 quando, depois de protestos estudantis, colocou ar condicionado e poltronas estofadas. Daí em diante correu uma programação de rotina, nem sempre apegada aos lançamentos do sudeste. Com o fim dos cinemas de rua, o grupo exibidor achou que deveria encerrar as suas atividades no Pará. Mas naquela que seria sua ultima sessão em 2006, a população foi protestar contra o fim daquela “testemunha da história da cidade”. A prefeitura municipal, então,  alugou o cinema, que passou a se chamar “Espaço Municipal Cine Olympia”, dotado de uma programação diferente desenhada por críticos de cinema. O Olympia, portanto, pode ser considerado o mais antigo cinema do país. Um exemplo para as demais cidades e orgulho dos paraenses. Neste ano do centenário, deve ser publicado um livro contando a sua heroica trajetória, além de uma programação especial para rever os passos dessa história.

O novo filme de Beto Brant: "Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios"

Ao contemplar os peixes num aquário, não perguntamos de onde eles vêm, nem que caminhos percorreram até se encontrarem ali. Apenas observamos o seu bailado imóvel e seu silencioso canto. Apesar da transparência, o vidro exerce aí função equivalente a uma cortina cênica, imóvel o bastante para manter a gente e os peixes em mundos para sempre apartados e complementares, isto é, na oposição entre palco e platéia. Fato é que o peixe nos fita ao mesmo tempo em que o fitamos. Batemos no vidro, jogamos migalhas de pão ou forçamos qualquer outro tipo de feedback, porque queremos ter certeza dessa interação. É mais ou menos isso que os filmes de Beto Brant e Renato Ciasca fazem conosco. Assistimos ao material filmado, mas por sua vez, seus personagens também podem estar nos espiando. O filme não quer ser confundido com mero reality show e pode estar dizendo que sabe quem somos nós, sentados ali no escuro dos cinemas.
Neste Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, por exemplo, há uma cena na qual uma prostituta é apresentada a um pastor evangélico – encarnados por pai e filha: Antonio Pitanga (Barravento) e Camila Pitanga (Saneamento Básico). Nesse ponto, os diretores autorizam os atores a passar por cima de seus personagens, para fazer uma piadinha com aquela parte da platéia que tem a informação desse parentesco. No longa anterior de Beto Brant (O Amor segundo B. Schiamberg – 2010), feito sem a colaboração de Renato Ciasca, tudo isso se fazia mais marcante, porque as filmagens foram realizadas imitando mesmo uma situação de reality show: Gustavo Machado (Bruna Surfistinha) e a artista plástica Marina Previato trancaram-se num apartamento durante várias semanas, enquanto oito câmaras escondidas gravavam tudo o que seria mais tarde editado. Aquela experiência, aliás, serviu de laboratório para esta produção mais recente, em que a improvisação orquestrada dos intérpretes sob o olhar discreto da câmera é o procedimento fundamental da encenação.
Há um livro de Marçal de Aquino como ponto de partida e um roteiro que dele foi extraído. Mas a montagem final é tudo o que recebemos dele e, conforme as decisões dos irrequietos diretores, os personagens são exibidos vivenciando de cara a essência de seus conflitos, sem aquela preparação há séculos recomendada pela dramaturgia. Inicialmente, pouco ou nada sabemos acerca de sua gênese, ou de suas motivações, ainda que vez por outra um deles coloque a cabeça para fora do virtual aquário e fale de si. É o que vemos acontecer com o personagem de Zecarlos Machado (A Casa de Alice): um pastor evangélico tentando explicar como a bíblia o salvara da degradação. Com jeito de discurso ensaiado, essa fala visa persuadir uma mulher de lindos lábios a experimentar o mesmo tratamento. Caída de bêbada e drogada no meio da rua, ela é Camila Pitanga representando uma prostituta urbana. Após uma cena de exorcismo, tão convincente que credenciaria Machado dedicar-se ao ofício de pregador, a moça aceita se casar e mudar com ele para uma missão religiosa no oeste do Pará.
O empenho dos intérpretes nos leva a acreditar que aquelas piedosas palavras ditas e ouvidas foram os instrumentos da mudança. Mas a competência deles nos deixa a suspeita de que, para o homem, tudo não passasse de uma cantada exemplar enquanto, para a mulher, seria a oportunidade de arranjar marido, comida e roupa lavada. Já na remota Santarém, em vez de montar outro aquário, os diretores nos apresentam dois peixes fora d’água, isto é, um jornalista e um fotógrafo sofisticadamente pervertidos pela civilização sulista, na pele de Gero Camilo e Gustavo Machado. Este, mesmo sem isca nem anzol, logo captura o peixão que é a personagem de Camila Pitanga em estado de múltipla abstinência. Parece, entretanto que em lugar de se esconder, os amantes procuram tornar público o seu amor proibido e nem se preocupam em fechar a janela.
De fato, o vidro do aquário não é sequer arranhado pelas arestas do velho triângulo amoroso. O que o fará rachar, esparramando a tragédia pelo chão do roteiro é, como veremos, o cerne da estrutura dramática inventada por Brant e Ciasca. Ou seja, a estratégia de incluir no filme cenas quase documentais referentes a um problema social típico da região − um comício contra o desmatamento, uma barcaça escandalosamente repleta de toras de madeira nativa – e outras de puro simbolismo, como a performance musical de uma espécie de ritual xamânico encenado uma mulher branca. Essas intromissões do mundo presente funcionando como enunciações da desgraça teriam outro peso na narrativa se o pastor e marido traído não tivesse se tornado uma liderança popular tipo Chico Mendes ou Dorothy Stang.

EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS
Brasil, 2012, 100 min, 16 anos
estréia 20 04 2012
gênero drama / social
Distribuição Columbia
Direção
Beto Brant e Renato Ciasca
Com Camila Pitanga, Zecarlos Machado,
Gustavo Machado, Gero Camilo
COTAÇÃO
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ÓTIMO

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Em "À toda prova", Steven Soderbergh lança Gina Carano: versão feminina de Bruce Lee.


“À Toda Prova” é mais um filme de Steven Soderbergh que não cabe facilmente numa classificação apressada. Espiã contratada por uma agência que presta serviços perigosos a diversos governos é traída por seus superiores e decide eliminá-los para sobreviver. Aparentemente é um espetáculo de ação dirigido ao mercado, como foi “Doze Homens e um Segredo” (2001), que tinha um elenco estelar, encabeçado por George Clooney e Brada Pitt. Por sua vez, “À Toda Prova” tem astros de renome, como Michael Fassbender, Antonio Banderas, Michael Douglas e Ewan McGregor, mas a atriz principal é a quase desconhecida Gina Carano.
Digo quase, porque ela é campeã de MMA, ou seja, Artes Marciais Mistas – aquela mistura de boxe tailandês, karatê e outras técnicas mortíferas de luta. Com ela como protagonista absoluta, isto é, atuando em todas as cenas, Soderbergh desenvolve o lado, digamos, experimental desta obra. Se nos filmes com Angelina Jolie (“Salt”) as sequencias de ação física são evidentemente editadas e dependem da participação de doublés, isso não é necessário com Gina Carano que enfrenta os bandidos de verdade, mais ou menos como fazia Bruce Lee (“Operação Dragão”). Numa cena de perseguição, por exemplo, ela salta muros e pula de um telhado para outro sem truques. Trata-se, portanto, de um espetáculo concebido em torno da performance dessa intérprete que permite muito mais espontaneidade e fluência na montagem.
Há momentos em que o desempenho dos atores é tão envolvente, do ponto de vista visual, que o diretor se permite prolongar a cena um pouco mais do que pede a dramaticidade da história, transformando-a numa atração em si. É o que acontece numa passagem, antológica para o gênero, em que ela luta com Michael Fassbender (“Shame”). Além disso, é uma figura assombrosamente fotogênica, de uma beleza rústica, que lembra as estátuas gregas do período clássico. Um nome que poderá brilhar em Hollywood.
À Toda Prova
Haywire
estreia 13 04 2012
Gênero ação / espionagem / artes marciais
EUA, 2011, 94 min, 14 anos
Distribuição Imagem Filmes
Direção Steven Soderbergh
Com Gina Carano, Michael Fassbender,
Michael Douglas, Antonio Banderas, Ewan McGregor
COTAÇÃO
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B O M

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Como será que se sustenta um ator ou um diretor de cinema entre um filme e outro?

Essa pergunta vale, aliás, para todos os artistas e técnicos que trabalham em cinema e nas demais artes e espetáculos: roteiristas, maquiadores, fotógrafos, cenógrafos etc. A gente sabe que muitos, se não a maioria, passam necessidades e às vezes mudam de profissão. A boa notícia é que a Câmara dos Deputados analisa o projeto de lei 3269/12, do Senado, que concede seguro-desemprego a artistas, músicos e técnicos em espetáculos de diversões. Se aprovada, a proposta será incluída na Lei 7.998/90, que regulamenta a concessão do benefício. Atualmente, a legislação determina que tem direito ao seguro-desemprego apenas o trabalhador demitido sem justa causa e aquele comprovadamente resgatado de regime de trabalho forçado ou da condição análoga à de trabalho escravo. Pela proposta, o artista, músico ou técnico em espetáculo de diversões desempregado terá que atender a alguns requisitos como, por exemplo, comprovar que trabalhou na área respectiva ao menos 30 dias nos 12 meses anteriores à data do pedido do seguro, e não estar recebendo nenhum outro benefício previdenciário de prestação continuada. Além disso, terá que comprovar a realização de recolhimentos previdenciários sobre o período de trabalho e não possuir renda de qualquer natureza que seja suficiente para manter sua família.

“Jovens Adultos” marca o amadurecimento da dupla Diablo Cody e Jason Reitman

“Jovens Adultos” (Young Adult) tem como atrativos principais dois ganhadores de Oscar: a atriz Charlize Teron (Monster – Desejo assassino – 2003) e a roteirista Diablo Cody (Juno – 2007). O diretor é Jason Reitman, que trabalhara com Diablo Cody em “Juno” e que filmara outras histórias especialmente espertas e imaginativas, como “Obrigado por Fumar” (2005) e “Amor sem escalas” (2009). Em seu início, o filme adota francamente um tom de comédia dos mais costumeiros: aos 37 anos, uma escritora de livros juvenis encara um momento difícil na carreira e, percebendo que as bebedeiras diárias se tornaram insuficientes para amenizar as dores do cotidiano, planeja uma virada radical em sua vida. Abandona Minneapolis e regressa para a pequena comunidade do interior onde crescera, decidida a reatar o antigo romance com o namorado dos tempos de colégio (Patrick Wilson, na foto acima), ainda que agora ele esteja casado e com um filho recém nascido.
A comicidade dessa etapa se sustenta nos cortantes diálogos que seguem a tradição do humorismo cinematográfico americano, cultivada desde os anos 1930, de Franka Capra a Groucho Marx. Por trás deles, no entanto, se esgueira a verdadeira face do filme, que consiste num doloroso jogo de desencontros e decepções por parte da protagonista e dos demais personagens com ela envolvidos. Aos poucos, as máscaras vão se soltando e as aparências revelando a sua inútil tentativa de maquiar as coisas amargas da vida. E aí se percebe que a roteirista e o diretor evoluíram muito desde aquela simpática fábula adolescente que foi Juno, tornando-se enfim mais sensíveis às agruras do mundo, ou seja, mais adultos.
JOVENS ADULTOS
Young Adult
EUA, 2012, 94 min, 12 anos
estreia 06 04 2012
gênero comédia / drama / social
Distribuição Paramount
Direção:Jason Reitman
Com Charlize Theron, Patrick Wilson, Elizabeth Reaser
COTAÇÃO
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B O M

"12 Horas" é o primeiro longa do pernambucano Heitor Dhalia em Hollywood.

Este primeiro filme dirigido pelo pernambucano Heitor Dhalia (À Deriva e O Cheiro do Ralo) nos Estados Unidos não teve um caminho fácil junto ao público americano. De orçamento modesto, “12 Horas” (Gone) foi lançado há um ano sem exibição prévia para os críticos, o que deve ter provocado certa antipatia geral, refletida na fria recepção por parte da imprensa norte-americana. De fato, a história não se mostra fora do comum e foi por lá considerada uma costura de velhos clichês. Em Portland, no Oregon uma moça (Amanda Seyfried) fora atacada por um maníaco sexual assassino que a prendera dentro uma cova no bosque próximo à cidade. Ela conseguiu escapar do cativeiro, mas a polícia jamais encontrou o suspeito e nem o seu esconderijo. Por isso, desde que se recuperou do ataque, a menina teme uma revanche do criminoso e segue procurando o local onde estivera presa.


.O filme se inicia com o desparecimento de sua irmã, o que a leva a se queixar à polícia, temendo o retorno do tarado. Mas desta vez, como no antigo conto infantil, os detetives não a levam a sério. Na tradicional narrativa de Esopo, ninguém acreditava mais naquele menino pastor de ovelhas que, certa vez, tinha inventado a presença de um lobo, só para se divertir à custa da aldeia. Nem mesmo quando um lobo realmente apareceu e devorou todo um rebanho. Em resultado da indiferença por parte das autoridades, a garota passa a investigar o desaparecimento da irmã por conta própria, chegando a ser perseguida pelos próprios policiais por causa de alguns abusos cometidos. Trata-se, como vemos de uma pequena fábula contemporânea, centrada no conflito entre o indivíduo e o estado. O roteiro pode ser mesmo de curto alcance, mas a direção de Heitor Dhalia é impecável, sempre intensificando a tensão da narrativa e o interesse pelo destino da protagonista − que de resto é bem construída enquanto personagem porque, mesmo sem credibilidade, ela consegue nos engajar por inteiro no frenesi dessa busca.

12 HORAS
Gone
EUA, 2012, 94 min, 12 anos
estreia13 04 2012
gênero suspense / crime
Distribuição Paris Filmes
Direção Heitor Dhalia
Com Amanda Seyfried e Jennifer Carpenter
COTAÇÃO
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BOM

Adeus, Festival de Cinema de Paulínia...

A prefeitura de Paulínia extinguiu o seu Festival de Cinema que, apesar de uma curta carreira, já tinha se colocado entre os cinco mais importantes do país, ao lado dos de Brasília, Gramado, Pernambuco e Ceará. A esfarrapada desculpa é a necessidade de priorizar projetos sociais da cidade − como se Paulínia, com sua refinaria, não fosse um dos municípios mais ricos do Brasil. Há, no entanto, a esperança de que Edson Moura, o principal concorrente do prefeito José Pavan Junior o derrote nas próximas eleições e ressuscite o Festival. Porque foi Moura, quando foi prefeito na gestão anterior, quem criou o pólo de produção e o Festival de Cinema da cidade. Pavan afirmou que Paulínia continuará a apoiar e investir nos longas e curtas produzidos no Polo Cinematográfico. Mas, segundo nosso colega João Nunes, “o edital de 2011 (que deveria ter sido anunciado no final de 2010) não saiu, assim como o de 2012 (que deveria ter sido anunciado no final do ano passado). O de curtas vai completar dois anos em julho. Nenhum deles saiu. O prefeito repete o que tem dito desde então: ’Vão sair o mais breve possível’. Ou seja, não vão sair. Ainda tem filmes do edital de 2010 sendo feitos aqui. Agora, isso tudo pode mudar caso ele perca as eleições”. Ocorre, porém, que essa atitude foi francamente eleitoreira porque a prefeitura de Paulínia alega que “os cerca de R$ 10 milhões que seriam investidos no Festival de Cinema, serão direcionadas para os trabalhos realizados na área social, como, construção de novas escolas, casas, saúde e nos programas do meio ambiente”. Toda a comunidade do cinema brasileiro lamenta dolorosamente o ocorrido, em especial os críticos, como ficou registrado na Carta Aberta ao Prefeito, enviada há pouco pelo presidente da Associação Brasileira dos Críticos de Cinema, a ABRACCINE.

Carta aberta da Abraccine ao Prefeito de Paulínia
A Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) recebe com muito pesar o comunicado de que o Festival de Cinema de Paulínia não será realizado este ano. A nota do prefeito José Pavan Jr. afirma que a alocação de recursos destinados ao festival em outras prioridades (saúde, educação, moradias populares) tornou a decisão inevitável. Como cidadãos, entendemos a construção de moradias populares, e o investimento em educação, saúde e meio ambiente deveriam mesmo ser prioridades constantes de qualquer municipalidade, e não apenas em anos eleitorais. Já como profissionais de cinema, lamentamos a descontinuidade de um projeto muito bem formatado e de grande repercussão nacional. Em poucos anos, Paulínia criou um Polo Cinematográfico, uma Escola de Cinema e um festival que se tornaram exemplares. O festival, ora em compasso de espera, era justamente a vitrine de toda essa atividade. Reunia em Paulínia produtores, cineastas, atores e atrizes, jornalistas e críticos de todo o País. Formava público para os filmes brasileiros. Criava empregos na cidade e beneficiava a autoestima dos seus habitantes. Muitos novos projetos surgiram desses encontros anuais entre profissionais de diversos estados da federação. Foi dessas reuniões, por exemplo, que nasceu a nossa própria instituição, a primeira associação nacional de críticos de cinema, o que faz com que tenhamos carinho especial com Paulínia. Todo esse patrimônio simbólico corre o risco de se perder, ao sabor de conveniências políticas de momento. Esperemos que a fresta de esperança aberta no comunicado do prefeito resulte na realização do festival em 2013. Mas ressaltamos, desde já, que é perda irreparável o cancelamento da edição de 2012. Eventos importantes firmam sua tradição pela continuidade. Assinado. Luiz Zanin Oricchio (presidente da Abraccine)

domingo, 8 de abril de 2012

O melhor de "Xingu"é falar de heróis brasileiros de verdade: os sertanistas irmãos Villas Boas

Na abertura de “Xingu”, com o entusiasmo de adolescentes os Villasboas sujam a própria roupa e o rosto com o barro do chão para não despertar suspeita acerca de sua posição social. Como que se pintando para a guerra, os três irmãos ingressam como simples peões na expedição Xingu-Roncador organizada em 1943 pelo Estado Novo, com o objetivo de dar início à ocupação do Brasil Central. Não há aí qualquer informação quanto aos motivos pelos quais os rapazes, todos com mais de 25 anos, tomaram aquela decisão. O fato é que, na sequencia seguinte, eles já se acham em pleno Xingu, como líderes de uma primeira missão de contato com índios isolados. O confronto entre uma cena e outra na mente do espectador já diz muito sobre os personagens, mais do que poderia a voz de um narrador, porque esta usaria palavras em lugar de imagens.

Essa forma de narrar caracteriza o cinema épico, tal como era denominado pelo soviético Sergei Eisentein, justamente na época em que Leonardo, Claudio e Orlando vieram ao mundo. Era a chamada montagem intelectual, em que idéias poderiam ser sugeridas por meio do choque dialético entre figuras filmadas. E o filme prossegue nessa linha, com um mínimo de diálogos e conceituações verbais, deixando que o fluxo dos fatos se encarregue da narrativa. Já mais perto do ponto culminante do roteiro, por exemplo, vemos uma conversa entre Orlando e um político para o qual basta uma frase para ser identificado como Jânio Quadros. Logo em seguida, junto com os xavantes, ele ouve pela Voz do Brasil a notícia de que o presidente da república acabara de decretar a criação do Parque Nacional do Xingu, salvando dezenas de nações indígenas da extinção pelo contato com os brancos.

Ao longo do filme, aparecem conflitos entre os protagonistas, fruto de suas contradições interpessoais e internas, lembrando-nos de que eles são simples humanos e não heróis, no sentido mitológico do termo que os antigos gregos usavam para designar os semideuses. Leonardo foi afastado da expedição pelos irmãos porque se envolvera com uma índia, dando motivo a um escândalo divulgado nacionalmente pela imprensa e que teria lhe abreviado a vida. Cláudio criticava a atuação política de Orlando e ambos se culpavam pela morte do irmão.

Mas, com tantos acontecimentos para contar, nessa saga que envolve a consolidação da maior reserva natural e indígena das Américas, o filme parece evitar a armadilha do palavreado folhetinesco que veio do teatro e ganhou plena acolhida nas novelas de televisão. Pode ser que futuramente, em sua versão para mini-série televisiva, o diretor Cao Hamburger acrescente mais informações pontuais àquela história, mas, em 102 minutos de filme durante os quais há pouca oportunidade para pestanejar, predomina a concisão. Nesse quesito, o diretor contou com o apoio de Ana Muylaert -- ela mesma uma cineasta iniciada na arte de informar o máximo com um mínimo de recursos. E, é claro com a inspiração e o traquejo de Felipe Camargo, João Miguel e Caio Blat que deram corpo à lembrança daqueles irmãos, heróis brasileiros do século XX.

XINGU
Brasil, 2012, 102 min, 12 anos
estreia 06 04 2012
gênero drama / história / política
Distribuição Columbia / Downtown
Direção Cao Hamburguer
Com Caio Blat, João Miguel, Felipe Camargo
COTAÇÃO
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Ó T I M O

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Neste “Um método muito perigoso”, Cronnenberg se disfarçou de Rosselini

Todo o mundo estranhou aclareza da narrativa, a precisão das referências visuais de cunho histórico e artístico e o realismo bem comportado da narrativa em “Um método muito perigoso”. Afinal nada disso faz parte da imagem construída por seu diretor David Cronnenberg (Canadá, 1943) ao longo de uma carreira em que desponta uma estética pessoal do grotesco com filmes como “Scanners”, “Videodrome” e “Crash - Estranhos prazeres”. Taras ainda sem nome, vícios mórbidos, violência compulsiva e demais perversões que circulam pelos sombrios labirintos da mente humana aparecem com tanta freqüência em seus filmes, que ele ganhou os apelidos de King of Venereal Horror (Rei do Horror Venéreo) e Baron of Blood (Barão do Sangue). Era natural, portanto, que ele se interessasse em adaptar o livro de John Kerr que focaliza a origem da psicanálise e tem como protagonistas Carl Jung (Michael Fassbender ) e Sigmund
Freud (Vigo Mortensen), tal como se relacionavam na primeira década do século XX. A eles o roteiro destina violentas discussões e desavenças − sempre circunscritas, porém, ao plano civilizado do debate intelectual. Como se sabe, Jung foi o principal discípulo de Freud, antes de enveredar por uma metodologia em que o conceito de inconsciente era ampliado para além da concepção freudiana. No filme, o desvario psicótico se manifesta sim, ainda que reservado aos personagens secundários vividos por Keira Knightley e Vincent Cassel – ela uma paciente masoquista que se tornaria terapeuta, e ele um psiquiatra que experimentava a loucura como quem hoje pratica yoga. No fundo, é Cronnenberg puro, mas disfarçado de docudrama na linha de Roberto Rosselini.
UM MÉTODO PERIGOSO
A Dangerous Method
estreia 30 03 2912
gênero docudrama / psicologia / história
Reino Unido/Alemanha/Canadá, 2012, 99 min, 14 anos
Distribuição Imagem Filmes
Direção David Cronenberg
Com Keira Knightley, Michael Fassbender, Viggo Mortesen
COTAÇÃO
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B O M

quinta-feira, 5 de abril de 2012

“A Dançarina e o Ladrão” é um espetáculo completo: diverte, emociona e faz pensar.

A produção espanhola “A Dançarina e o Ladrão” é dirigida por Fernando Treuba, que em 1992 fez o emocionante “Sedução - Belle Époque”. Mas a alma do espetáculo é o livro em que se baseia − do chileno Antonio Skarmeta autor de “O Carteiro e o Poeta” (na foto abaixo), que faz uma pequena ponta no filme, no pele de um crítico de dança. Outro papel pequeno, porém, marcante é da bailarina brasileira Marcia Haydée, vivendo uma professora de balé. A história se passa no Chile, em seu processo de redemocratização, após o período Pinochet. Mas a tônica é essencialmente romântica, e a figura do ditador é apenas um quadro na parede que esconde um cofre com dinheiro sujo do regime derrubado.
Uma fortuna a ser arrebatada quase a contragosto pelo ladrão do título, interpretado com a maestria de sempre pelo argentino Ricardo Darin. Ele pretende abandonar o crime, mas as circunstâncias o levam a se associar a um jovem ex-presidiário que parece uma versão atualizada do cômico mexicano Cantinflas, apaixonado por uma bailarina muda. Essas figuras chaplinianas sacodem o protagonista que representa o homem sério e empenhado em se regenerar e tornar-se um cidadão integrado ao mundo real. A partir delas, a trama vai adquirindo uma tonalidade quase poética e fantástica, por meio de detalhes ao mesmo tempo dramáticos e simbólicos. Um exemplo disso é cavalo que o rapaz enamorado usa para se locomover pela cidade de Santiago, como se o animal fosse uma bicicleta, ou se a capital do Chile não passasse de um vilarejo do interior.
A DANÇARINA E O LADRÃO
El baile de la Victoria
Espanha, 2009, 127 min, 12 anos
estreia 30 03 2012
Gênero comédia / drama / história
Distribuição:Paris Filmes
Direção Fernando Trueba
Com Abel Ayala, Ariadna Gil, Ricardo Darin
COTAÇÃO
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ÓTIMO

Retrato realista de um ídolo do futebol brasileiro nos anos 1940: "Heleno", por Rodrigo Santoro

Quem se interessa por futebol não precisará assistir “Heleno”, dirigido por José Henrique Fonseca (“O Homem do Ano”, 2003) para saber que ele foi um dos atletas mais brilhantes dos anos 1940. Os demais poderão se surpreender com esta bem cuidada produção em preto e branco sobre a triste vida de Heleno de Freitas (foto real abaixo)em foto , encarnado por Rodrigo Santoro com a garra de um centro avante em disputa pelo campeonato. Mesmo que o roteiro do filme não tenha alcançado essa dimensão, este (anti) herói carrega uma aura de tragédia que o arremessou da celebridade e da riqueza à degradação da loucura e do esquecimento. Apesar de elegante, inteligente e bem educado, ele não conseguiu superar os seus principais adversários, a saber, a bebida, o cigarro e o éter, além do temperamento agressivo e promíscuo que o levaram a encarar o seu inimigo verdadeiramente mortal que foi o treponema pallidum, ou seja, a sífilis.

Chegam a cinco, portanto, esses tremendos antagonistas, de modo que eles poderiam formar um time de futebol de salão. Mas o oponente que de fato o derrotou era um só e se escondia dentro dele mesmo. Falo de um ego tão inquebrável e desmesurado que o impedia de enxergar as coisas em sua configuração real e o levava se julgar invencível, mesmo quando já se achava a beira do abismo. Nesse sentido a equipe de roteiristas, na qual se inclui o argentino Fernando Castets − aplaudido por filmes como “O Filho da Noiva” (2001) – falhou em não trabalhar mais com esse conflito interno do personagem. No entanto, “Heleno” tem menos erros do que acertos. Como por exemplo, um intérprete perfeccionista − que veste a aparência física, o gestual e até alma do jogador − e a reconstituição do Rio anterior à Segunda Guerra, fotografado pela luxuosa lente de Walter Carvalho. Mas infelizmente não deixa que nos identifiquemos com o protagonista, porque afinal, ninguém consegue torcer por um chato, monolítico e invariável que se considera o máximo, acima de tudo e de todos.

HELENO
Brasil, 2012, 116 min, 14 anos
estreia 30 03 2012
gênero docudrama / futebol
Distribuição Downtown
Direção José Henrique Fonseca
Com Rodrigo Santoro, Alinne Moraes e Othon Bastos
COTAÇÃO
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B O M