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sábado, 6 de novembro de 2010

"Ondine" - poema marítimo em que Neil Jordan brinca com a fantasia e os sonhos

“Ondine” é um conto de fadas? Certamente não, porque seu público-alvo não são as crianças, mas nós adultos − principalmente aqueles com a alma já empedernida pelo cotidiano. E porque a proposta apenas lembra um exemplo atual de tentativa nessa linha que foi “A Dama na Água” (2006), de Night Shyamalan. Então o filme seria um quebra-cabeça, mais ou menos como aqueles jogos de adivinhação no qual o narrador da história se diverte em enganar os ouvintes? Um pouco sim, porque o diretor Neil Jordan (“Traídos pelo Desejo”, 1992) constrói uma expectativa na mente do espectador, só para desmontá-la nas últimas cenas.
Mas este belo espetáculo não se resume apenas a isso. Com sensibilidade e poder de síntese, ele cria um microcosmo a um só tempo banal e sugestivo, numa remota aldeia de pescadores ao norte da Irlanda. Que tipo de interesse poderia nos despertar o dia-a-dia de um pescador pobre, triste e solitário? Quem sabe se ele tropeçasse com algo que ele mesmo chama de incrível e extraordinário, como por exemplo, uma linda moça que ele arrancasse do fundo do mar e que transformasse radicalmente a sua existência.
Pois é exatamente isso que acontece com o personagem de Collin Farrell, ao encontrar em sua rede uma desconhecida interpretada pela cantora polonesa Alicja Bachleda. A filhinha do pescador acredita que ela seja uma entidade mítica, como os gnomos e as fadas, tão populares naquele país. Aos poucos os demais personagens o público passam a partilhar dessa crença, embalados pelo clima de sonho que se instala. Para isso, Neil Jordan recorre à música, como aliás ele sempre soube fazer. Especialmente numa passagem particularmente intrigante, em que os peixes parecem, de fato, encantados pela voz da desconhecida entoando uma canção numa língua obscura e ininteligível.
É comovente o carinho com que o autor trata seus personagens e o ambiente em que se movimentam: especialmente o padre (Stephen Rea) que, para o herói, funciona como psicoterapeuta e que nos proporciona momentos de sutil humorismo. Em suma, o filme nos oferece uma narrativa irresistivelmente poética, no sentido de que as coisas mais prosaicas e corriqueiras de que são feitas as pequenas vidas dos anônimos podem ser transfiguradas num universo fantástico e repleto de maravilhas, pelo engenho dos artistas que fazem o filme. No fundo, é precisamente isso que o cinema procura fazer conosco, quando nos rendemos aos seus encantos.
ONDINE
Ondine
estreia 05 11 2010
Irlanda/ EUA - 2009 – 111 min. - 12 anos
Gênero Fantasia / drama / Romance
Distribuição Imagem filmes
Direção Neil Jordan
Com Collin Farrell, Stephen Rea, Alicja Bachleda
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

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