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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Nosso adeus ao mestre Mauro Alice, o grande mago brasileiro da montagem

Na semana passada, faleceu um dos mais importantes montadores brasileiros, o curitibano Mauro Alice, considerado um grande mestre da montagem. Mauro já tinha quase 80 anos ao montar Carandiru, um dos 60 títulos aos quais ele deu forma. Para Babenco, ele também montou Coração Iluminado e O Beijo da Mulher Aranha (na foto abaixo). Para Walter Hugo Khoury ele trabalhou Noite Vazia, O Anjo da Noite, O Palácio dos Anjos e Corpo Ardente. De Francisco Ramalho Jr, ele fez Besame Mucho e Filhos e Amantes. Montou também Doida Demais para Sergio Rezende e a maioria dos filmes de Mazzaropi.
Na Vera Cruz, Mauro Alice editou obras clássicas como O Sobrado, Floradas na Serra, Uma Pulga na Balança, Sai da Frente. E até o desenho animado As Aventuras da Turma da Mônica, de Maurício de Souza. Ou seja, Mauro Alice viajou por todos os estilos, provando que a linguagem do cinema não varia conforme o gênero do filme ou o nome do diretor. E que, a propósito, este profissional não é o único responsável pela qualidade do resultado. Como arte coletiva, o cinema depende fundamentalmente dos técnicos que, na realidade, são tão artistas quanto os cineastas que assinam o trabalho e que entram para história. Tomara que esse mestre da arte cinematográfica e que tantos discípulos deixou, não caia no esquecimento como a maioria dos trabalhadores que ajudaram a fazer o cinema brasileiro.

domingo, 28 de novembro de 2010

Em “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos”, Woody Allen brinca com a comédia.

Woody Allen não faz nenhum papel em “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos”. Nem ao menos se encarrega da locução da voz em off que narra a história e comenta seus rumos e personagens. Também não elege qualquer um deles como seu alter ego, como fizera com o rabugento novaiorquino vivido por Larry David em “Tudo pode der certo” (2009). Mas sua presença como autor é evidente em todos os aspectos e momentos do filme. Até a cidade de Londres se mostra idêntica a Manhattan, uma espécie de ilha, ou redoma de cristal inventada para abrigar as obsessões e as figuras típicas com as quais ele tem trabalhando nesta última fase da sua produção.
Assim como em “Ponto Final – Match point” (2005), o enredo se estrutura em torno da questão do acaso, como principal fator a determinar as trajetórias humanas. Esse é de fato um dos mais sérios problemas para qualquer roteirista de cinema porque, na dramaturgia, tudo precisa fazer algum sentido, em termos das intenções e conflitos dos personagens. Aqui, entretanto, todas as ações dotadas de intencionalidade fracassam ou apresentam efeitos inesperados e indesejados. Por exemplo, um escritor em crise (Josh Brolin) resolve assinar e apresentar para uma editora os originais de um livro que um amigo lhe entregara só para pedir opinião, um dia antes de entrar em coma. O trabalho é aceito e vai ser publicado com o nome do usurpador. Mas, o que aconteceria se o verdadeiro autor do texto despertasse do coma?
Todas as demais figuras da trama se acham envolvidas em ciladas tão traiçoeiras quanto essa. Nesse sentido sim, o filme é uma comédia. O significado do riso assim produzido é semelhante ao que acontece quando vemos alguém que estava caminhando cheio de confiança em si mesmo escorregar numa casca de banana. Se o cidadão fratura a coluna, a graça se dissipa antes de gerar uma gargalhada. Esse é o caso da personagem de Naomi Watts, fascinada pelo de Antonio Banderas, e o de Anthony Hopkins, iludido por seus próprios músculos cultivados em academia. É mais ou menos assim que o roteiro se articula, como se Woody Allen estivesse sempre a serviço do “princípio de realidade”, disposto a impedir que as fantasias voem soltas pelo espaço do cinema, como em “O Sonho e Cassandra” (2007).
Mas, em compensação, a narrativa também trilha o caminho inverso – especialmente no que se refere aos personagens ligados à ironia inerente ao título ao próprio do filme e que remete a uma frase favorita de videntes e cartomantes para as clientes solitárias. A previsão do futuro por meios sobrenaturais como, aliás, vimos em “Scoop – O grande furo” (2006) parece ser o único antídoto contra o poder arrasador do acaso.
VOCÊ VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS
You Will Meet a Tall Dark Stranger
estreia 26 11 2010
EUA/ Espanha - 2009 – 98 min. – 12 anos
Gênero Comédia
Distribuição Paris Filmes
Direção Woody Allen
Com Naomi Watts, Antonio Banderas, Josh Brolin,
Anthony Hopkins, Freida Pinto e Gemma Jones
COTAÇÃO
****
ÓTIMO

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

"As Relíquias da Morte - Parte 1" é o filme mais adulto, tenebroso e político da série

O título do novo Harry Poter é "As Relíquias da Morte - Parte 1" com praticamente o mesmo elenco de sempre e os personagens centrais, já em plena maioridade, tentando não aparentar idade. Mas o fluxo do tempo é implacável e o próprio título já anuncia a proximidade do fim. Logo na primeira cena, uma professora do herói é cruelmente assassinada, por meio de uma serpente que parece abocanhar os espectadores. Mais adiante, o casamento de dois jovens bruxos é interrompido pelas forças do mal, como se a simples idéia de reprodução e continuidade fosse indesejada no roteiro.
Os conflitos costumeiros se acentuam e o clima todo parece um pouco mais adulto e tenebroso, com mais violência, mais mistério e até perseguições de motos e vassouras pelas estradas britânicas. O poder do maligno Voldemort está aumentando cada vez mais. Tanto que ele já detem o controle sobre o Ministério da Magia e do próprio colégio Hogwarts onde o herói estudou. De certa maneira, este é o episódio mais político de todos, com vários personagens mudando de posição e de partido.
A presença do estado e da repressão é aterradora, fazendo com que o trio central e seus aliados se movimentem como se atuasse na clandestinidade de uma ditadura tipo nazista. Eles mesmos vivenciam ciúmes e atritos emocionais que quase levam à separação da trinca. Os poucos momentos de humor, aliás, só acontecem na sequencia em que Harry e seus amigos se infiltram na sede do ministério (foto acima) e provocam confusões na linha das comédias de pastelão. Mas logo em seguida a narrativa derrapa numa interminável "barriga", com a turma procurando as tais relíquias mortais. Num filme de 2 horas e meia, esse hiato sem ação poderia muito bem ser eliminado.
HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE – PARTE 1
Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1
Reino Unido / EUA - 2010 – 147 min. - 12 anos
Gênero Aventura / fantasia
Distribuição Warner Bros.
Direção David Yates
Com Emma Watson, Daniel Radcliffe,
Rupert Grint, Helena Bonham Carter
COTAÇÃO
* * *
B O M

sábado, 6 de novembro de 2010

O cinema brasileiro aumenta seu percentual de participação no mercado em 2010


No dia 26/10/2010 “Tropa de Elite 2” alcançou a marca de filme nacional mais visto desde 1995, o ano em que se iniciou retomada da produção nacional, após o freio de Collor. Foram necessários apenas 18 dias de exibição para que a obra de José Padilha batizada como "O Inimigo agora é Outro" superasse a marca de 6,2 milhões de espectadores, deixando para trás “Se Eu Fosse Você 2”, de Daniel Filho (que conquistara 6,1 milhões de espectadores).

Para se ter uma ideia do isso significa em termos comparativos, na terceira semana de exibição o blockbuster de Daniel Filho só conseguira acumular aproximadamente 2,5 milhões de espectadores na – isto é, menos da metade dos ingressos vendidos por “Tropa 2” no mesmo intervalo de tempo. Os próximos recordes a serem atingidos por esta produção de Marcos Prado comercializada por Marco Aurélio Marcondes são os seguintes: primeiro o de filme mais assistido nas salas de cinema do Brasil neste ano. Nesta posição está “Avatar” e seus 9,1 milhões de espectadores; e o de maior blockbuster da história do cinema nacional. Este posto vem sendo mantido por “Dona Flor e Seus Dois Maridos” que, em 1976, trouxe 10,7 milhões de pessoas para as salas de exibição.

Graças a esse impulso, em 2010 os ingressos de filmes brasileiros já superam os de 2009. Esse é um dado interessante, ou seja, observando a curva histórica nota-se que nos anos em que o cinema brasileiro vai bem, o mercado todo cresce. Foi assim, por exemplo, em 2003 ("Carandiru") e em 2004 ("Cazuza"). Os números comprovam que os filmes nacionais não tiram público dos blockbusters estrangeiros. Liderados por "Chico Xavier", "Nosso Lar" e "Tropa de Elite 2", os filmes brasileiros já venderam 18 milhões de ingressos em 2010, o que representa 2 milhões de espectadores a mais do que tivemos no ano passado, quando a nossa taxa de ocupação nas salas era de 14,3%. Agora a Agência Nacional de Cinema estima que, neste ano, a participação do filme brasileiro chegue a 15% ou 16% do total do nosso mercado exibidor.

"Ondine" - poema marítimo em que Neil Jordan brinca com a fantasia e os sonhos

“Ondine” é um conto de fadas? Certamente não, porque seu público-alvo não são as crianças, mas nós adultos − principalmente aqueles com a alma já empedernida pelo cotidiano. E porque a proposta apenas lembra um exemplo atual de tentativa nessa linha que foi “A Dama na Água” (2006), de Night Shyamalan. Então o filme seria um quebra-cabeça, mais ou menos como aqueles jogos de adivinhação no qual o narrador da história se diverte em enganar os ouvintes? Um pouco sim, porque o diretor Neil Jordan (“Traídos pelo Desejo”, 1992) constrói uma expectativa na mente do espectador, só para desmontá-la nas últimas cenas.
Mas este belo espetáculo não se resume apenas a isso. Com sensibilidade e poder de síntese, ele cria um microcosmo a um só tempo banal e sugestivo, numa remota aldeia de pescadores ao norte da Irlanda. Que tipo de interesse poderia nos despertar o dia-a-dia de um pescador pobre, triste e solitário? Quem sabe se ele tropeçasse com algo que ele mesmo chama de incrível e extraordinário, como por exemplo, uma linda moça que ele arrancasse do fundo do mar e que transformasse radicalmente a sua existência.
Pois é exatamente isso que acontece com o personagem de Collin Farrell, ao encontrar em sua rede uma desconhecida interpretada pela cantora polonesa Alicja Bachleda. A filhinha do pescador acredita que ela seja uma entidade mítica, como os gnomos e as fadas, tão populares naquele país. Aos poucos os demais personagens o público passam a partilhar dessa crença, embalados pelo clima de sonho que se instala. Para isso, Neil Jordan recorre à música, como aliás ele sempre soube fazer. Especialmente numa passagem particularmente intrigante, em que os peixes parecem, de fato, encantados pela voz da desconhecida entoando uma canção numa língua obscura e ininteligível.
É comovente o carinho com que o autor trata seus personagens e o ambiente em que se movimentam: especialmente o padre (Stephen Rea) que, para o herói, funciona como psicoterapeuta e que nos proporciona momentos de sutil humorismo. Em suma, o filme nos oferece uma narrativa irresistivelmente poética, no sentido de que as coisas mais prosaicas e corriqueiras de que são feitas as pequenas vidas dos anônimos podem ser transfiguradas num universo fantástico e repleto de maravilhas, pelo engenho dos artistas que fazem o filme. No fundo, é precisamente isso que o cinema procura fazer conosco, quando nos rendemos aos seus encantos.
ONDINE
Ondine
estreia 05 11 2010
Irlanda/ EUA - 2009 – 111 min. - 12 anos
Gênero Fantasia / drama / Romance
Distribuição Imagem filmes
Direção Neil Jordan
Com Collin Farrell, Stephen Rea, Alicja Bachleda
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

“Scott Pilgrim contra o Mundo” é um espetáculo adolescente até a medula

“Scott Pilgrim contra o Mundo” é o novo exemplar de cinema teen que entra em cena. E esse adjetivo “novo” não se refere apenas ao seu ineditismo, como também às novidades que oferece em termos de estilo e linguagem. Só recentemente o cinema brasileiro despertou para a importância desse nicho de mercado que abriga os filmes feitos sobre adolescentes, também com a intenção de serem consumidos principalmente por essa mesma parcela do público. Mas não é de agora que a indústria cinematográfica internacional vem arrecadando milhões com essa linha de espetáculo. Geralmente eles se apóiam em best-sellers de duvidosa qualidade literária, como “Crespúsculo”, por exemplo.
Neste caso, porém, trata-se de uma adaptação de uma história em quadrinhos absolutamente sui generis, criada por Brian Lee O’Malley, que estourou nas bancas do mundo todo. Desenhada em preto e branco e com alguma influência formal do mangá japonês, a graphic novel deste sino-canadense de 23 anos opera a proeza de desenvolver peripécias extraordinárias a partir de uma narrativa propositalmente banal e corriqueira, focalizando um jovem desocupado que divide um porão com um amigo em Toronto.
Assim como o autor do gibi, Scott Pilgrim (Michael Cera, “Juno”) tem 23 anos. Não estuda e nem trabalha, mas toca baixo numa banda de quinta categoria. Só que a sua vidinha sem a menor graça é sacudida por um romance com uma garota americana e misteriosa cujos sete ex-namorados simplesmente decidem matá-lo: eles formam “A Liga dos Ex-namorados do Mal de Ramona”. E aí, para se defender, ele se transforma num herói de filme de Kung Fu ou de desenho animado. Cada um desses "exes" vale como etapa de um videogame que o protagonista precisa ultrapassar para receber o amor de Ramona, no fundo uma garota comum, sem grandes atrativos . Aliás, talvez para sublinhar que não tem compromisso com nenhum gênero em especial, por meio da paródia, “Scott Pilgrim contra o Mundo” faz piada com várias modalidades audiovisuais, como o film-noir dos anos 40, os videogames da primeira geração, a sit-com da TV a cabo, o musical disneyano, o neon-gótico para a juventude, os delírios de Bollywood e com a própria HQ de super-heróis.
As páginas dos quadrinhos de O’Malley funcionam como uma espécie de story board para a produção que, em lugar de apenas ttraduzir os desenhos para a linguagem de cinema, promovem uma forma muito inventiva e engraçada de confronto entre os grafismos originais e o material filmado. É o caso das múltiplas setas, letreiros e outros signos (como as tradicionais onomatopéias dos comics) que inesperadamente comentam e interagem com a história. Com apenas 33 anos e inglês, como o grupo Monthy Python, de quem parece ter herdado a verve e a ousadia, Edgar Wright (“Chumbo Grosso”, 2007) é o diretor talhado para essa linha de espetáculo que rejeita qualquer compromisso estético ou formal em nome do humor e da fantasia.
SCOTT PILGRIM CONTRA O MUNDO
Scott Pilgrim vs. the World
estreia 05 11 2010
EUA / Reino Unido / Canadá – 2010 – 112 min. - 12 anos
Gênero Aventura / adolescência / fantasia
Distribuição: Paramount
Direção Edgar Wright
Com Michael Cera, Alison Pill e Mark Webber
COTAÇÃO
* * *
B O M