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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Indispensável! Mostra "Cinema de Moda" na Galeria Olido, de 8 a 16 de junho.

Entre os dias 8 e 18 de junho, a Galeria Olido oferece uma mostra de 15 filmes que se referem às ligações entre a moda e o cinema. Sempre com entrada franca, a cada dia serão exibidos dois filmes, às 15:30hs e 18:30hs. A convite da Galeria Central e da Galeria Pontes que organizam este evento paralelo ao São Paulo Fashion Week, um grupo bem diversificado de personalidades indicou os títulos. Gente como Constanza Pascolato, Cesar Giobbi, João Braga e José Gayegos escolheu o filme de sua preferência. Como resultado, obteve-se uma lista que contempla diversos gêneros, épocas, estilos e nacionalidades, num leque extremamente variado e significativo das múltiplas conexões entre os universos da moda e do cinema.
YVES SAINT LAURENT - O TEMPO REDESCOBERTO (dia 8/6) é um documentário escrito e dirigido por David Teboul, um especialista em história da moda francesa que usa o cinema como meio de investigação e expressão. Ele já contou, por exemplo, a trajetória da Revista Elle e abordou a vida do estilista Yves Saint Laurent em dois filmes feitos em 2002. Um deles é este O Tempo Redescoberto,cujo principal elemento é uma longa entrevista com aquele designer argelino radicado em Paris, onde morreu em 2008, com 72 anos de idade. E que também fez cinema, assinando figurinos de clássicos como “Viver a Vida” (67) de Claude Lelouch.
Neste OS EMBALOS DE SÁBADO NOITE (dia 8/6) de John Badham, feito em 1977, John Travolta criou Tony Manero − uma figura tão expressiva que voltou em 1983, com “Os Embalos de Sábado Continuam”, dirigido por Sylvester Stallone. E novamente em 2008, num drama do chileno Pablo Larain e que atesta a difusão daquele ícone pelo mundo inteiro. Um personagem que marcou tanto pelo gestual da sua dança, quanto pelo modo de se apresentar e de se vestir: uma espécie de síntese visual de uma determinada vertente dos anos 70.
GIGOLÔ AMERICANO (dia 9/6) Se John Travolta carimbou os anos 70 com os exageros visuais de seu personagem Tony Manero, de “Saturday Night Fever”, Richard Gere abriu os anos 80, com a discrição de Julian, protagonista de “O Gigolo Americano” com direção de Paul Schrader em 1980. Talvez você não se recorde de outro filme dirigido por Schrader. Mas, certamente deve se lembrar de “Taxi Driver” e de “ A Última Tentação de Cristo” -- filmes que ele trabalhou apenas como roteirista. Aqui Schrader resolveu chamar Giorgio Armani para vestir o seu personagem para, assim, diferenciá-lo de todos os demais. A idéia deu tão certo que esse estilista italiano foi chamado para colaborar em outros 22 filmes.
Em 1985, Out of Africa, o título original de “Entre Dois Amores” (dia 9/6) ganhou 7 Oscars. Entre eles não estavam incluídos o de Melhor Atriz para Meryl Streep e nem o de Melhor figurino para Milena Canonero. Muita gente disse que isso foi injustiça em dobro. Se essa queixa era procedente, ou não, basta verificar que hoje, passados 25 anos, Meryl Streep acumula 14 indicações 3 Oscar recebidos. Por sua vez Milena Canonero também conquistou três Oscars, sendo o mais recente o polêmico Maria Antonieta, dirigido por Sofia Coppola. Uma carreira, portanto, em que predominam os filmes de época, nos quais o estilista tem a dupla missão de pesquisar a história e criar um look para cada personagem.
Além de surpreendente, a escolha de “O Belo Brummel” (dia 10/6), de 1954, para esta mostra é mais do que adequada, porque o filme fala de um herói real, mas pouco conhecido. Brummel era um militar dandy, que ditava a moda na Inglaterra no início do século 19. Um personagem que, além de elegante, era bom de briga e um severo crítico dos poderosos. O elenco era liderado por Elizabeth Taylor e Stewart Granger, uma dupla de artistas ingleses visualmente impressionante, contracenando com o craque Peter Ustinov. O diretor era o alemão Curtis Bernhardt, um mestre que fugiu do nazismo e veio para Hollywood nos anos 30. Confesso que este filme que eu vi quando tinha 9 anos, foi um dos responsáveis pelo meu interesse pelo cinema, que permanece até hoje. Cheguei a fazer aulas de esgrima, porque queria ser um espadachim, como o herói. Isso não deu certo, mas, em compensação me tornei um crítico assim como ele era.
Depois daquele Beijo (dia 10/6) “Blow Up” (66) é a obra de Antonioni que mais profundamente discute a cultura e a comunicação do tempo em que foi feita, ou seja, os anos 60. O protagonista é um fotógrafo de moda vivido por David Hemmings, contracenando com divas como Vanessa Redgrave, Jane Birkin e Sarah Miles. O filme, aliás, colaborou para a excessiva glamorização desse ofício que aconteceu em seguida. Mas, na verdade o que ele questiona é o império das imagens sobre a vida real, ou da aparência sobre a essência. No centro da trama, temos um assassinato que é registrado por acaso numa sessão de fotos. É sem dúvida um dos títulos mais importantes na carreira de Antonioni e de todo o século 20.
De 1954, “Sabrina” (dia 11/6)é uma trama escrita e dirigida por Billy Wilder, o genial mestre da comédia sofisticada -- um daqueles cineastas europeus que, fugindo do nazismo, veio elevar o nível artístico e intelectual do cinema americano em meados dos anos 30. De certa maneira, esta história protagonizada pela elegantíssima Audrey Hepburn fala também de um processo civilizatório. Assim como na trajetória do Patinho Feio, ela faz o papel da filha de um motorista que é apaixonada por um dos filhos de seus patrões e que, é claro, não liga a mínima pra ela. Mas depois que a moça regressa de uma viagem à França, burilada pela cultura européia, a coisa muda totalmente de figura.
ZUZU ANGEL (dia 11/6) foi uma estilista carioca que antes de ser tema de filme, foi eternizada pela canção de Chico Buarque de Holanda, na qual ele resume o drama de Zuzu Angel, uma heroína brasileira dos tempos da ditadura. A pergunta do compositor (Quem é esta mulher?) é respondida pelo diretor Sergio Rezende ao descrever a saga desta mãe que teve o filho envolvido na luta armada contra o regime e que foi assassinado nos porões da ditadura.Só que antes de ter certeza disso, ele viveu uma dolorosa peregrinação em busca do filho desaparecido. A direção de arte de Marcos Flaksman nos remete por inteiro aos anos 70. Os estudiosos e especialistas em moda aqui presentes poderão avaliar se o figurino de Kika Lopes é mesmo fiel à época, ou se comete alguns exageros ao recriar a atmosfera estilística de um período marcado justamente pelos exageros. Como eu digo no meu livro, o filme traz surpresas, como Luana Piovani, interpretando Elke Maravilha, que era a melhor amiga da protagonista.
ROMA DE FELLINI (dia 12/6) não tem um enredo, porque é feito de diversos segmentos independentes de um ensaio cinematográfico sobre a cidade. É um retrato a um só tempo barroco e impressionista de Roma a partir do ponto de vista de um dos seus cidadãos mais famosos. Tem elementos de autobiografia porque reconstitui a chegada Fellini a Roma, durante a ditadura de Mussolini. Mas também mostra cenas da vida romana na atualidade, como um tremendo engarrafamento de tráfego. Destacam-se dois símbolos fortíssimos da dualidade dessa metrópole contemporânea e atemporal: uma equipe arqueológica na escavação do metrô e um incrível desfile de moda eclesiástica. Pois é, veremos batinas, sotainas, tonsuras e paramentos desfilando na passarela...
PULP FICTION - TEMPO DE VIOLÊNCIA (12/6) Bizarro, cômico, caricatural, agressivo e irônico. Esses são apenas alguns dos adjetivos que podem ser atribuídos a PULP FICTION - TEMPO DE VIOLÊNCIA, este notável filme de Quentin Tarantino, feito em 1994. Uma síntese bem humorada da cultura pop na década anterior, que não esconde o desejo de trazer para os andares superiores da criação artística, determinaoselementos até então condenados aos porões da indústria cultural, como as histórias em quadrinhos, as séries policiais classe C de televisão e a música barata das discotecas. Um exercício de fusão que indicou novos estilos, não apenas para a moda, mas para o próprio cinema.
Um dos últimos filmes da excepcional carreira de Luchino Visconti, “Morte em Veneza” (13/6)é a destilação máxima da elegância visual e da intensidade dramática que sempre mercaram o cinema do cineasta italiano. Baseado numa novela de Thomas Mann, e por meio de um protagonista que é um compositor de vanguarda no tempo da belle époque, o filme aproxima magistralmente duas forças contraditórias, ou seja, o fascínio pela beleza e o impulso da auto-aniquilação. Dificilmente Visconti conseguiria a mesma excelência de resultados, sem a participação de Piero Tosi, o figurinista de praticamente todos os seus filmes. Muitos deles de época, como Ludwig e O Leopardo. Como se sabe, nesse tipo de espetáculo, o estilista tem a dupla missão de pesquisar a história e criar um look para cada personagem.
FOME DE VIVER (13/6) é uma peça fundamental na filmografia de Tony Scott, irmão do célebre Ridley Scott, ainda que tenha sido injustamente acusada de formalista e excessivamente rebuscada do ponto de vista visual. Conta uma história de vampiros especialmente refinada, e considerada uma das fundadoras do estilo “neo-gótico” com um elenco cuja química surpreendeu, ou seja, David Bowie, Catherine Deneuve e Susan Sarandon. Realizada em 1983, a produção conta com a excelência de Milena Canonero no design dos figurinos. Ela, uma veterana detentora de 3 Oscars, e que se destaca tanto nos espetáculos de época, como Barry Lindon, quanto nos filmes fantásticos como “Laranja Mecânica”, só para citar dois trabalhos que ela fez com o falecido mestre Stanley Kubrick.
Dirigido pelo documentarista holandês Femke Wolting SNEAKERS (dia 14/6)aborda o sapato como uma expressão cultural, uma espécie de ícone dos tempos modernos. A idéia central do filme é que o tênis seja muito mais do que apenas um tipo de calçado, mas também expresse uma tendência nos usos e costumes como um todo. Uma peça de vestuário carregada de uma simbologia tão rica e variada que ultrapassa a sua função utilitária. O filme mostra a sua evolução histórica a partir do primeiro All Star até as mais recentes inovações tecnológicas. É sem duvida, um dos grandes cases de marketing no mundo contemporâneo.
Feito em 1999, CLUBE DA LUTA é (dia 14/6) dirigido por David Fincher, atualmente consagrado por títulos como “O Curioso Caso de Benjamim Button”. CLUBE DA LUTA é protagonizado por Edward Norton, Brad Pit e Helena Bonham Carter. Norton representa um "homem comum" descontente com sua posição de classe média. Com um vendedor de sabonetes interpretado por Pitt, ele forma um "clube de combate" dedicado a uma atividade extremanente violenta. Aqui, a intenção de Fincher é usar a violência como metáfora do conflito entre uma geração de jovens e o sistema de valores do capitalismo consumista. Os executivos do estúdio Fox não gostaram do filme e não conseguiram divulgá-lo a contento. Por isso, ele não obteve boas bilheteiras e dividiu a avaliação dos críticos, que o viram ora como o prenúncio des mudanças no quadro político americano, ora como simplesmente uma produção de estilo visual inovador. No entanto, o filme tornou-se um sucesso comercial com o lançamento em DVD, que consagrou CLUBE DA LUTA como um film cult. Talvez o designer Michael Kaplan, que foi também criador dos figurinos de “Blade Runer”, seja um dos responsáveis por essa virada.
Realizado por Wim Wenders em 1989, IDENTIDADE DE NÓS MESMOS (dia 15/6) é um documentário feito por encomenda para o Centro Georges Pompidou em Paris, sobre o trabalho do estilista japonês Yoji Yamamoto. Wenders que vinha de uma Palma de Ouro em Cannes (Paris Texas – 1984) recebera a incumbência de abordar o mundo da moda. Mas na narração inicial que abre o filme, ele confessa um desprezo por essa atividade que, naquele final dos anos 80, era ainda generalizado no ambiente do cinema. Ele declarava: “Me interesso pelo mundo, não pela moda”. Mas ao longo do filme ele foi se surpreendendo com o trabalho criativo de Yamamoto e literalmente se apaixonando pelas câmaras de vídeo que começava a usar experimentalmente, neste filme, junto com as máquinas de filmar tradicionais. Trata-se, portanto, do registro artístico de uma dupla descoberta por parte do cineasta que nos apresentou obras memoráveis, como Buena Vista Social Club.
Faltava um musical nesta mostra de filmes e a escolha de MY FAIR LADY – MINHA BELA DAMA (dia 15/6) nos traz um dos mais ricos, sob todos os pontos de vista. Em 1964, George Cukor dirigiu a versão para o cinema de um musical da Broadway criado por Alan Jay Lerner e Frederick Loewe, a partir da peça Pigmaleão de George Bernard Shaw. No elenco, Audrey Hepburn e Rex Harrison. Nos figurinos, o veterano Cecil Beaton, que já tinha brilhado com Gigi, em 1958. MY FAIR LADY foi o musical de maior sucesso e que permaneceu mais tempo em cartaz em toda a história. Talvez aí esteja o interesse em discutir esse filme no contexto da moda, que às vezes é definida pela sua transitoriedade. Se for verdade que a moda seja essencialmente passageira, como avaliar a importância de obras com tamanha durabilidade e tanta permanência ao longo do tempo. Ou seja, como se explica a existências de coisas e valores que nunca se colocam foram de moda?

Um comentário:

pseudo-autor disse...

A mostra é otima. Podia vir aqui pro RJ. Tem o Fome de Viver que eu estou tentando assistir, sem sucesso, há 15 anos. Fora Blow Up e Pulp Fiction. Não precisa dizer mais nada!

Cultura? O lugar é aqui:
http://culturaexmachina.blogspot.com