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quinta-feira, 25 de março de 2010

Um conto de fadas levado a sério, mas muito engraçado, em "Como Treinar o seu Dragão"

Depois da série “Shrek”, que parodiava e desconstruía os contos de fada, a produtora DreamWorks resolveu trilhar o caminho inverso com esse “Como Treinar o seu Dragão”, longa de animação dirigido por Dean DeBlois e Chris Sanders, a dupla que fez o simpático “Lilo & Stich” (2002). Em ritmo de desenfreada aventura, o desenho faz uma atualização das clássicas sagas medievais baseadas em guerreiros em luta com dragões, associando humor, imaginação, um visual mirabolante em 3D e moral da história.
A aventura se passa numa aldeia viking − na alta Idade Média, portanto − que é assolada por diversas espécies de dragões. A principal atividade de seus habitantes é caçar esses ferozes répteis alados que lhes devoram os rebanhos e soltam fogo pela boca. O protagonista da história é um adolescente aprendiz de ferreiro que, em lugar da espada e da lança, procura inventar novos meios de enfrentar os predadores e, graças ao seu talento para o artesanato, acaba elaborando um modo de domesticá-los.
O seu conflitado relacionamento com o resto da comunidade − o pai, o mestre e os colegas − é muito bem desenvolvido em termos de humor, com um diálogo e um desenho que lembram os melhores álbuns de “Asterix”. Como um precursor de Leonardo da Vinci, o garoto prefere a técnica à força bruta e acaba descobrindo que, para controlar uma fera, é preciso primeiro aceitá-la e compreendê-la. Mas tudo isso se manifesta por meio de uma ação incessante, que coincide com “Avatar” nas seqüências em que os nativos cavalgavam animais alados.
Há até uma batalha aérea com os jovens vikings montando os seus dragões que rivaliza com os momentos visualmente mais sofisticados e emocionantes do filme de James Cameron. Num diálogo, o herói conta que, quando encarou um dragão de perto pela primeira vez, notou que o bicho estava tão assustado quanto ele e, então, pôde enxergar ele mesmo, nos olhos do inimigo. O recado que fica é, mais uma vez, um apelo à paz, ao respeito à natureza e à diversidade biológica e cultural. Esses parecem ser os valores que tendem a nortear os espetáculos de aventura no cinema contemporâneo.
COMO TREINAR O SEU DRAGÃO
How To Train Your Dragon
estreia 26 03 2010
EUA - 2010 – 98 min. - Livre
Gênero Animação / Fantasia
Distribuição Paramount
Direção Dean DeBlois e Chris Sanders

Em "O Livro de Eli", Denzel Washington é um samurai de um futuro após o fim do mundo

Não há nada de novo em “O livro de Eli”, mas o filme surpreende pelo modo como revisita essa modalidade tão surrada de aventura fantástica. Como em “Mad Max” (1979), a civilização foi destruída por uma guerra nuclear e a humanidade restante sobrevive das sobras que ficaram do tempo antigo. Os desertos sem lei ficam parecidos com os do velho oeste, onde cidades se formavam ao redor de bares e pistoleiros. Numa delas aparece Denzel Washington, interpretando um andarilho tão misterioso e rápido no gatilho quanto “O Estranho sem Nome” daquele faroeste místico dirigido por Clint Eastwood em 1973. O personagem também remete à figura clássica do samurai, em que a técnica de luta se acha em geral a serviço de uma ética inabalável. Sua meta é proteger um livro que ele e o vilão da história vivido por Gary Oldman consideram sagrado. Aí a referência é o clássico “Farenheit 451” (1966) de François Truffaut.
Antes da metade do filme, já se sabe que o “O livro de Eli” é a bíblia, a última que resta no mundo. A própria guerra que trouxera o apocalipse teria acontecido em função dela e, assim, o protagonista e o antagonista a disputam por motivos opostos. O bandido quer usá-la para melhor oprimir os fracos, enquanto o mocinho acredita em seu poder de redenção. Esse é o conflito central do filme e, afinal, também a sua mensagem.
O ponto fraco deste paladino, porém, permanece escondido dos espectadores e dos outros personagens até as cenas finais, onde reside a grande surpresa do filme. Um especialista contou 26 filmes de samurais que apresentam o mesmo handicap do nosso guerreiro, ainda que o mais conhecido atualmente seja “Zaitochi” (2003). Mas, ao contrário do que acontece nos filmes de Takeshi Kitano, quase não se vê sangue nas inúmeras batalhas em que ele se envolve. Os gêmeos Hughes que dirigem o filme reduzem as cores a uma paleta quase monocromática e, muitas cenas de luta são mostradas em contra-luz, apenas em silueta. É evidente, aliás, o fascínio das histórias em quadrinhos sobre os irmãos Huhges, que dirigiram “O Livro de Eli”, depois de “Do Inferno”, uma adaptação da graphic novel de Alan Moore desenhada em branco e preto. Apesar de mexer com cinema desde os 12 anos, estes afro-descendentes gêmeos, nascidos em Detroit em 1972, ainda não sedimentaram um estilo que os caracterize, como é o caso dos irmãos Coen, de Mineápolis, e dos Taviani, de Pisa.

O LIVRO DE ELI
The Book of Eli
estreia 19 03 2010
EUA - 118 min. - 16 anos
Gênero Aventura / Fantasia
Distribuição Columbia
Direção Albert Hughes e Allen Hughes
Com Denzel Washington, Mila Kunis,
Michael Gambon e Jennifer Beals

sábado, 20 de março de 2010

Fatih Akim, do cult "Contra a Parede", decepciona em “Soul Kitchen”

Para quem admirava Fatik Akin, o cineasta alemão de origem turca que, em 2005 revelou o seu talento com o visceral e orgiástico “Contra a Parede”, este “Soul Kitchen” decepciona um pouco. O foco ainda continua no mundo ambíguo dos descendentes de imigrantes e suas dificuldades de integração à sociedade alemã. Só que o tom passa ser de comédia e a narrativa se mostra até mais bem comportada que o seu filme anterior − “Do Outro lado”, que beirava o trágico e o patético, por meio de personagens à margem do sistema social. Os atores se esforçam e a direção tenta impedir que a encenação perca o ritmo.
Mas o roteiro apresenta pouca possibilidade de voar acima de uma história quase banal. Ela tem como centro um tipo simpático, mas totalmente perdido, entre um irmão viciado em jogo, uma namorada fria que se muda para Shangai e logo arruma outro amante, e um velho amigo sem nenhum caráter que simplesmente decide tomar-lhe o imóvel em que ele instalara um humilde restaurante popular. Além de ser um imigrante grego, que não possui seguro de saúde e nem parentes ricos, ele se caracteriza por uma total falta de sorte e passa o filme mancando por causa de um ferimento na coluna provocado por um acidente. Como num recente filme brasileiro, porém, a trama nos diz que mesmo o infortúnio pode trazer o seu oposto dentro de si, principalmente para quem jamais desiste.
SOUL KITCHEN
Soul Kitchen
estreia 19 03 2010
Alemanha – 2009 – 95 min. – 14 anos
Gênero Comédia
Distribuição Imovision
Direção Fatik Akin
Com Adam Bousdoukos, Maritz Bleibtreu e Anna Bed

“Criação” focaliza os conflitos interiores de Darwin antes de lançar A Origem das Espécies

No ano de 2009, celebrou-se o bicentenário do nascimento de Charles Darwin. 150 antes, ele tinha publicado A Origem das Espécies ‑ Através da Seleção Natural. Aquele foi o trabalho intelectual que mais profundamente modificou a cultura na época contemporânea, afetando radicalmente as ciências naturais e sociais, a filosofia e principalmente a religião. Divulgado num tempo em que as sociedade e os estados ocidentais se apoiavam nas igrejas cristãs, o texto afrontava a ordem estabelecida no âmbito das idéias e dos valores. Ao questionar a narrativa bíblica na qual o universo fora criado em sete dias e o ser humano moldado do barro à imagem e semelhança do criador, a teoria da evolução propunha uma nova forma de pensar o mundo. E ameaçava, perigosamente, a própria crença na existência de Deus.
Produzido pela BBC, o filme se concentra no período em que Darwin já tinha concebido a sua teoria, mas ainda faltava finalizar o texto e entregá-lo a um editor. Vemos que ele relutava em dar esse passo, porque enfrentava a oposição dos religiosos com quem se relacionava e da própria esposa, interpretada com firmeza por Jennifer Connely. O ator britânco Jeremy Northman atribui uma surprendente fragilidade emocional ao personagem que, para agravar a luta que travava interiormente consigo mesmo, sofria profundamente pela perda da filha de 10 anos. Nos momentos de maior angústia, nós e alguns personagens do filme, vemos o cientista conversando e interagindo com a filha morta, sem que o diretor Jon Amiel (“O Núcleo – Missão ao Centro da Terra – 2003) elabore uma definição clara do significado dessa personagem: na estrutura do roteiro, seria ela uma alucinação ou um fantasma? Darwin estaria fantasiando ou seria o que hoje se chama de medium?
Isso é o aspecto mais curioso do filme, que é lento, delirante, fragmentado e ignora a polêmica criada após a publicação do livro. Mas ele pode estar propondo uma pertinente alusão ao fato de que a teoria evolucionista darwiniana é uma das bases doutrinárias centrais do espiritismo kardecista, tão divulgado no Brasil por Chico Xavier. Os principais escritos de Allan Kardec (1804-1869), aliás, foram elaborados e difundidos logo após a publicação da Origem das Espécies. Nesse sentido, este “Criação” funciona como inusitada introdução ao filme de Daniel Filho, a ser brevemente lançado.
CRIAÇÃO
Creation
estreia 19 03 2010
Inglaterra - 2009 – 108 min. - 10 anos
Gênero Drama / História
Distribuição Imagem Filmes
Direção Jon Amiel
Com Jennifer Connelly, Jeremy Northam e Toby Jones

“Um Sonho Possível”: filme mediano que deu a Sandra Bullock o Oscar de atriz

Sandra Bullock ganhou o Oscar 2010 de melhor atriz por seu trabalho em “Um Sonho Possível”, mas sua atuação no filme se mostra apenas correta. Quer dizer, sem nenhum virtuosismo artístico e nem grandes dificuldades para a caracterização de uma dona de casa do Misissipi, bem resolvida no casamento com um poderoso empresário e mãe de dois belos filhos. O dado de estranheza é que, quase por acaso, ela resolve adotar um adolescente negro, pobre e com dois mais de metros de altura que seu filho de oito anos conhecera na escola. E faz isso sem qualquer outra razão aparente, a não ser um impulso de desprendimento ou caridade cristã. Em pouco tempo, ela o ajuda a se transformar em jogador de futebol de grande sucesso. Aí sim temos uma explicação: esse é o lazer predileto da família.
Mas antes disso, desce do seu pedestal de classe dominante entra em contato direto como mundo dos marginais e excluídos da cidade, ao qual o rapaz pertencia. Para conseguir treiná-lo nessa modalidade tão agressiva de esporte, ele se lembrou do Touro Ferdinando, uma figura de desenho animado, cujo instinto de proteção superava a sua esperada tendência para a brutalidade animal. Com vemos, é um roteiro praticamente infantil, que procura salientar a importância da estabilidade familiar e mostrar que entre os caipiras abastados do sul, também se manifestam gestos de a solidariedade humana apesar das diferenças raciais.
A personagem é verdadeira, mas acaba se encaixando com o tipo ideal que o sistema espera de uma cidadã da elite americana, neste momento que já é tratado como o início da era Obama. Ou seja, não há mais lugar para a segregação racial, mas ainda sobra espaço para o velho populismo, tão bem explorado nos anos 1930 pelos filmes de Frank Capra. Há inclusive brincadeiras com a administração Bush e o preconceito sulista contra os partidários democratas. A socialite heroína, de resto se comporta como uma figura bíblica, sem contradições internas e inabalável em seus propósitos humanitários. Até quando é acusada pelo próprio enteado de tê-lo ajudado apenas por interesses ligados à política esportiva de seu estado. Vemos, então, que o único drama do filme vem de um falso conflito. Aliás, o maior interesse do filme é justamente esse: mostrar como funciona o esporte competitivo ligado às universidades nos EUA.

UM SONHO POSSÍVEL
The Blind Side
estreia 19 03 2010
EUA - 2009 – 128 min. - 10 anos
Gênero Drama /História
Distribuição Warner Bros.
Direção John Lee Hancock
Com Sandra Bullock, Tim McGraw,
Kathy Bates e Quinton Aaron

sábado, 13 de março de 2010

"Ilha do Medo" é um trabalho de Scorcese e DiCaprio, ambos em plena forma

Disfarçado de simples filme de suspense, chega aos cinemas, “Ilha do Medo” (Shutter Island) a última criação de Martin Scorcese, com Leonardo DiCaprio como protagonista. Trata-se da mais apaixonante especulação sobre a violência, dentre as tantas que o autor de “Taxi Driver” (1976) vem nos oferecendo ao longo da carreira. Aos 68 anos, ele amadureceu o suficiente para visar à diversão do público e, ao mesmo tempo, colocar em pauta sua postura crítica em relação ao mundo atual.
O filme se passa em 1954, tempo em que nos EUA se caçavam idéias esquerdistas, como fazemos aqui com o mosquito da dengue. DiCaprio é um agente federal que vai investigar o desaparecimento de uma interna num manicômio judiciário. Nesse processo, entretanto, o personagem vai se fragmentando, e reaviva dolorosas lembranças − da sua vida particular e da experiência como um dos soldados americanos que arrombaram os portões de Dachau, onde os nazistas eliminavam em massa seus inimigos. Aqui se promove a inevitável comparação entre o macartismo e o nazismo, entre o campo alemão de extermínio e os hospícios prisionais.
O poder dessa metáfora, porém, vai crescendo ao longo do filme e nos conduz para além dos fatos históricos, a uma instância em que se depara com a repressão e a guerra como meros exemplos da incapacidade humana para enfrentar o medo. E então nos lembramos das guerras de ocupação, de Guantânamo, do terrorismo, da tortura e de toda a desumanidade que assistimos ao nosso redor. Nessa primeira fase de “Ilha do Medo”, há um traço de teatralidade na encenação, enfatizada pela música gritante e pelo excessivo nervosismo de algumas situações.
Aos poucos se percebe que esse artificialismo é proposital, o detetive vai passando de perseguidor a perseguido e o roteiro se transfigura. A tal ponto, que o filme passa a desenvolver duas narrativas diferentes ao mesmo tempo: uma delas desenhada por ele e a outra pelos demais personagens. Essa duplicidade se mantém até o final, quando o espectador é levado a escolher uma dessas opções. Ou ficar com ambas, porque elas conduzem à mesma reflexão sobre a violência, como a mais inútil e desastrosa das soluções para os problemas humanos.
ILHA DO MEDO
Shutter Island
estreia 12 03 2010
gênero policial / suspense / história
Distribuição Paramount
Direção Martin Scorcese
Com Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kigsley

quinta-feira, 11 de março de 2010

Em "Aproximação" de Amos Gitai, dramas familiares e políticos no oriente médio

Amos Gitai abre seu novo trabalho "Aproximação" com uma longa cena filmada num trem em movimento. Dura 15 minutos e é quase um curta metragem independente dentro do filme, porque mostra uma pequena história envolvendo dois personagens que não se encontram mais daí para frente. Ele é Liron Levo, ator judeu praticamente desconhecido no mundo ocidental e ela é a diva palestina Hiam Abbas de “Lemmon Tree”, que ilumina com a personalidade que a caracteriza aquela que é a melhor parte de "Aproximação”. Aqui o inegável talento do diretor para encenar situações únicas fica ofuscado pela sua desmedida pretensão, disfarçada de ousadia, ao desprezar princípios básicos de corte e duração de planos já internalizados na montagem cinematográfica de modo geral. Desde D. W. Griffith (1875-1948), a linguagem do cinema vem se desfazendo da redundância e evitando o desnecessário ou o abusivo na narrativa.
Chegando ao final, há um abraço entre dois personagens, quase tão interminável quanto o choro de Natalie Portman na abertura de “Free Zone”. Outros exemplos penosos são as inúteis e demoradas cenas de treinamento militar (na mesma linha “Tropa de Elite”) e o excessivamente prolongado canto de Barbra Hendricks. Juliete Binoche também padece com essa mania de super-exposição, em certos momentos em que a sua personagem fala demais para dizer pouco ou nada. Mas, felizmente para ela, a personagem de Jeanne Moreau tem uma participação rápida e decisiva. O próprio lado supostamente documental do filme, ou seja, a reconstituição de uma ação militar de 2005 em que o exército de Israel expulsou colonos judeus de uma área ocupada indevidamente parece exagerado e pouco plausível – principalmente agora que o governo daquele país autoriza o estabelecimento de novas colônias em território palestino. Há em "Aproximação" um paroxismo de autocomiseração que parece ter sido instaurado para condenar aqueles judeus europeus que permanecem alheios aos problemas de política interna israelense. O restante do público não tem como vestir a carapuça e tampouco entender inteiramente de que trata tudo aquilo.
APROXIMAÇÃO
Disengagement
estreia 12 03 2010
Alemanha/ Itália/ Israel/ França
2007 – 115 min. - 12 anos
Gênero Drama / história
Distribuição Pandora
Direção Amos Gitai
Com Juliette Binoche, Liron Levo,
Jeanne Moreau, Barbara Hendricks

sexta-feira, 5 de março de 2010

Vamos trocar idéias, conversar e debater cinema DURANTE a entrega do Oscar?

No próximo domingo, eu estarei ao vivo na Rádio Bandeirantes de São Paulo (AM 840 e FM 90.9) para comentar a entrega do Oscar, a partir das 23 horas e até o encerramento da cerimônia. Vai haver interatividade com os ouvintes por meio de telefone e e-mail.
O endereço da Rádio Bandeirantes, para seguir a programação pela internet é:


Vamos sortear vários exemplares do meu livro "Os Melhores Filmes Novos" entre os ouvintes que acertarem as principais premiações. Já fiz a mesma coisa no ano asado e foi bem divertido. As pessoas da minha família já disseram que vão abaixar o som da TV e ficar só com as imagens, para seguir o áudio do evento pela rádio. Não é uma sugestão, mas apenas uma idéia.

Com quem será que o Oscar vai ficar? É o que vamos saber no próximo domingo.

Chega de discussão e suspense! Neste fim de semana, teremos a premiação do Oscar e a maior parte das apostas já estão fechadas. Para Melhor Filme, o favorito nas pesquisas é “Avatar”, deixando “Bastardos Inglórios” e “Guerra ao Terror” empatados no 2º lugar. “Avatar” é uma fantasia épica, que adota o estilo da ficção científica para criticar a destruição da natureza e o expansionismo militar. “Bastardos Inglórios” de Quentin Tarantino é uma farsa histórica, que ridiculariza a guerra por meio da exacerbação da violência. Entre os dois, minha preferência é “Guerra ao Terror”, por causa da sua proximidade com o mundo real, colocando o público em pleno campo de uma batalha que está acontecendo agora. Também critica a guerra, mas adota um ângulo diferente para fazer isso: ou seja, o ponto de vista dos especialistas em desativar as bombas armadas por terroristas. No entanto o filme de minha predilação na disputa pela estatueta é "Um Homem Sério" (ACIMA), dos irmãos Coen, uma comédia corrosiva de cunho autobiográfico, no qual os cineastas brincam (muito a sério) com suas origens étnicas e familiares.
No topo das pesquisas para Melhor Ator aparece Jeff Bridges de “Coração Louco”, que já ganhou o Globo de Ouro e que foi indicado 4 vezes, todas sem levar o Oscar. Pode ser a oportunidade para a Academia de Hollywood reparar a tortura: por 4 vezes ele foi lá e aguardou pacientemente a frase “e o Oscar vai para...”, mas teve que ficar ali sentadinho, sorrindo amarelo para as câmeras de TV, enquanto outro concorrente levantava para receber a estatueta e os aplausos. Mas no meu entender o melhor ator de todos é o inglês Colin Firth (ABAIXO), o último da lista nas apostas, pelo excelente “Direito de Amar” que já está em cartaz.
Em termos de Melhor Atriz, a preferência é para Sandra Bullock (ACIMA) de “O Sonho Impossível”, ainda não lançado no Brasil. Mas, ela corre o risco de perder para Meryl Streep, cravada no 2º posto com “Julie & Julia”, que já saiu de cartaz. Para mim tanto faz uma ou outra, porque as duas atuações são apenas medianas. Já para Ator Coadjuvante, 75% dos votos indicam o alemão Christoph Waltz, o impagável comandante nazista de “Bastardos Inglórios”. Nesse ponto, eu concordo totalmente com a maioria. Como também no caso de Atriz Coadjuvante para Mo’ Nique, a detestável mãe de “Preciosa”... Curioso como os melhores coadjuvantes interpretam personagens malignos e contraditórios.
Geralmente o Oscar de Melhor Diretor é entregue para quem fez o melhor filme, mas, pode ser que a Academia resolva fazer média premiando o perdedor, que pode ser Katherin Bigelow de “Guerra ao Terror”, ou James Cameron de “Avatar”. Portanto, é provável que Quentin Tarantino ganhe Melhor Roteiro original por “Bastardos Inglórios”. Mas, para mim o melhor roteiro adaptado é “Distrito 9” (ACIMA), produção de Peter Jackson que é também o 1º nas pesquisas. Trata-se de um filme de ficção científica que, no entanto, fala da realidade social na África do Sul, de um modo surpreendente. E correndo por fora, temos “Up - Altas Aventuras”. Indiscutivelmente é o melhor desenho animado de longa metragem, mas que também concorre a Melhor Filme. Quem sabe...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Atores, música e texto de qualidade não fazem de “Coração Louco” um grande filme

“Coração Louco” é mais um filme de ator, no sentido em que todo ele é montado para colocar em evidência a atuação do protagonista. Vivido por Jeff Bridges (“Starman – O homem das Estrelas” – 1984), o personagem é um astro da música country de meia idade que, antes de conhecer o apogeu em sua área, entra em declínio por causa da bebida. E pelo rosto de Jeff Bridges passa todo o tormento causado pela decadência, o vício, a velhice e a proximidade da morte. Poderia ser uma espécie de versão musical de “O Lutador”, com Mickey Rourke, que também concorria no ano passado, nessa mesma linha de um artista fracassado que tenta se redimir e busca uma segunda chance − como aliás, uma especialidade típica do cinema americano. Mas aqui a produção é mais caprichada, inclusive com a composição de belas canções feitas especialmente para o próprio Bridges interpretar – uma delas é "The Weary Kind” que concorre ao Oscar.
No elenco de apoio, “Coração Louco” coloca atores de gabarito, como Robert Duvall e Colin Farrel e Maggie Gyllenhaal. O roteiro, como sempre investe na figura de uma mulher para arrancar o cantor do fundo do abismo em que se encontra. Só que além do encontro amoroso, o herói repara melhor nos artistas com quem trabalha e observa um traço de solidariedade além da competição. É daí que se origina a força para a superação do personagem e, também, a originalidade do filme. Mesmo com todo essse esforço, o filme não consegue esconder a inexperiência de um diretor em seu primeiro filme.
CORAÇÃO LOUCO
Crazy Heart
estreia 05 03 2010
EUA - 2009 – 112 min. – 14 anos
Gênero Drama / musical
Distribuição Fox Films
Direção Scott Cooper
Com Jeff Bridges, Maggie Gyllenhaal e Robert Duvall

terça-feira, 2 de março de 2010

"Entre Irmãos" é um estudo sobre os efeitos da guerra no plano individual

Há 20 anos, o cineasta irlandês Jim Sheridan (Dublin, 1949) quase ganhou o Oscar com o memorável “Meu Pé Esquerdo” (1990), que foi premiado apenas pelos atores (Daniel Day Lewis e Brenda Fricker). Depois disso, ele foi indicado em vão outras duas vezes, com “Em Nome do Pai” (1994) e “Terra de Sonhos” (2004). Mas isso não lhe tira o prestígio de diretor sério e competente, que agora nos oferece “Entre Irmãos”. O filme fala da guerra no Afganistão, mas vale como estudo sobre a capacidade dos iguais ou semelhantes lutarem irracionalmente entre si − o que certamente é um tema fortemente ligado aos irlandeses que enfrentaram décadas de guerra civil.
Tobey Maguire (“O Homem Aranha”) é um experiente oficial capturado e preso pelos rebeldes e que, no entanto, é dado como morto em combate. Vivida por Natalie Portman (“Free Zone”), a esposa encontra relativo consolo na amizade do cunhado, ex-presidiário e sem emprego fixo (Jake Gyllenhaal de “O Segredo de Brokeback Mountain”) que logo de cara conquista o coração dos sobrinhos e se torna um eficiente substituto do pai, com a vantagem de se achar sempre disponível. No filme, essa aproximação afetiva entre o rapaz e a suposta cunhada viúva e linda se limita a um único beijinho. Mas quando o soldado volta para casa, tem absoluta certeza de que fora traído e entra em confronto direto com o irmão e com o resto da família. Como narrador do filme, ele lamenta em off na trilha sonora: “não morri, mas a questão é... conseguirei viver novamente?”. Tudo não passaria de uma crise de ciúme, não fosse a participação dos filhos do casal, cujo comportamento não precisa respeitar qualquer compromisso com a racionalidade e a diplomacia. Sem ser uma obra prima, “Entre Irmãos” pode ser visto como um exercício de observação acerca das incoerências da natureza humana. Ou uma reflexão de como o confronto entre nações pode se refletir na agressão entre parentes.
ENTRE IRMÃOS
Brothers
estreia 05 03 2010
EUA - 2009 – 107 min. - 14 anos
Gênero Drama / guerra
Distribuição Imagem Filmes
Direção Jim Sheridan
Com Natalie Portman, Tobey Maguire e Jake Gyllenhaal

Veterano designer de moda, Tom Ford acerta logo no primeiro filme: "Direito de Amar"

O cinema é o território natural do inesperado. Como imaginar que, em sua primeira experiência como roteirista e diretor, um designer de moda mostrasse tanta segurança dos seus recursos expressivos? Durante 10 anos, Tom Ford (Texas, 1961) cuidou da marca Gucci com grande habilidade, chegando a livrar a empresa da falência e levando-a a faturar 3 bilhões de dólares ao ano. Agora debutando na carreira de cineasta com “Direito de Amar” (A Single Man), logo de cara tem o protagonista Colin Firth concorrendo ao Oscar de melhor ator. Além do notável desempenho dele e de Juliane Moore, o filme se destaca pela precisão das imagens e pela escrita dos diálogos que associa profundidade e elegância.
O ambiente cultural da cena é Los Angeles em 1962 − exatamente, portanto, no momento que antecede o início da chamada “revolução sexual”, com o país ainda transtornado pela presença soviética em Cuba. Espelhando os dilemas da época como poucos filmes conseguiram, em “Direito de Amar”, o diretor iniciante se movimenta com firmeza em situações de fronteira entre o cômico e o trágico, entre o patético e o sublime, entre os impulsos de amor e de morte. Um dos personagens se pergunta: "se não estamos gostando do presente, o que nos faz pensar que o futuro será melhor?"

Desde o início, por meio de uma narração em off do protagonista, ficamos sabendo que ele pretende se suicidar, porque a pessoa amada morrera num acidente. E ele – um prestigiado professor universitário de literatura inglesa – nem teve o direito de comparecer ao enterro. Era um caso de amor quase secreto porque, ainda que tivesse durado mais de 15 anos, tratava-se de um relacionamento homossexual – o que era socialmente inaceitável no início dos anos 60, época em que a história é ambientada. Mas a proposta não é filmar os acontecimentos em si, e sim a subjetividade do personagem em relação a eles. Nesse sentido, impressiona e comove a longa sequencia em que o metódico professor ensaia meticulosamente todas as etapas do suicídio, desde a posição em que empunharia o revolver, até o terno que deveria vesti-lo no caixão.
As lembranças, os pesadelos e as distorções da realidade objetiva provocadas pelo desespero, pela mistura de álcool com tranqüilizantes, ou pela proximidade da morte se harmonizam com o registro prosaico do cotidiano. Para cada uma dessas instâncias, Ford cria uma linguagem visual que as distingue das demais. Assim, as memórias aparecem granuladas, enquanto as alucinações e os insights são mostrados em câmara subjetiva, em super closes e sonorização explicitamente artificial. Nesta, música e ruídos ganham a mesma importância. O roteiro cruza por todas essas transições sem perder a fluência ou escorregar para o melodrama. Finalmente, deságua num desfecho que, mesmo sem ser feliz para o personagem, mostra-se poético e satisfatório do ponto de vista da narrativa, ao instaurar sutilmente um elemento fantástico que vem para enriquecê-la.

DIREITO DE AMAR
A Single Man
estreia 05 03 2010
EUA - 2009 – 101 min. - 14 anos
Gênero Drama
Distribuição Paris Filmes
Direção Tom Ford
Com Colin Firth, Julianne Moore, Matthew Goode