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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Chega aos cinemas paulistas "Praça Saens Peña", diretamente da Zona Norte carioca

Praça Saens Peña” foi considerado pela crítica o destaque do último CinePE, Festival Áudio Visual de Recife, realizado em abril de 2009. Do júri, recebeu os prêmios de direção (para Vinicius Reis), de ator (Chico Diaz), atriz (Maria Padilha) e atriz coadjuvante (Isabella Meirelles). Mas perdeu o de melhor filme para “Alô, Alô Terezinha”, de Nelson Hoineff, numa passagem inesperadamente triunfal do gênero documentário. Um Homem de Moral, de Ricardo Dias, sobre a obra poético-musical de Paulo Vanzolini mereceu o Prêmio Especial do Júri.
E mesmo sendo de ficção, Praça Saens Peña apresenta fragmentos documentais em seu interior. Aos outros longas de ficção concorrentes coube apenas prêmios “de consolação”, ainda que justos: fotografia para o paranaense Mystérios e música para o baiano Estranhos. Mais que meramente distribuir troféus, portanto, o CinePE confirmou uma tendência que se manifesta atualmente na cinematografia brasileira: a ascensão desse estilo de narrativa cinematográfica definido pelo inglês John Grierson − um de seus primeiros teóricos − como “o tratamento criativo da realidade”. Mesmo como obra fictícia, Praça Saens Peña se debruça sobre a “realidade social” carioca. Focaliza a crise doméstica que afeta uma família de classe média residente na zona norte do Rio de Janeiro − no local que corresponde ao título do filme.
Um professor secundarista de literatura arranja um serviço extra e se descuida afetivamente da esposa. Ainda que banal e rotineiro, esse ponto de partida poderia render um drama familiar de interesse humano, se fosse mais elaborado, em termos de construção narrativa. O protagonista escreve um livro sobre a Tijuca e, talvez com o objetivo de ampliar a impressão de autenticidade, o roteiro interrompe o desenvolvimento da trama, para inserir discussões teóricas do personagem com seu editor. Mais adiante, a narrativa simplesmente estaciona para que ele possa entrevistar o compositor Aldir Blanc, um dos moradores ilustres do bairro, de modo excessivamente demorado.
O efeito dessa estrutura dramática entrecortada por intervenções “documentais” é, de certo modo, equivalente ao que acontecia nas chanchadas carnavalescas nas quais o desenrolar da história se interrompia para que a platéia assistisse a um número musical. Seria possível atribuir esse procedimento equivocado, do ponto de vista da fluência narrativa, a uma provável fascinação atual pelo documentário? Quem sabe...
A rigor um procedimento como este poderia até enriquecer uma obra, como ocorre em A Rainha (The Queen, Stephen Frears - 2006), em que a ficção se mistura de modo funcional a um abundante material de arquivo − ainda que de cinejornais e não de documentário. Outros exemplos notáveis de convivência entre documento e ficção no mesmo filme mostram soluções mais adequadas, ao situar o segmento documentário no encerramento, ou no início da matéria ficcional. É o caso do clássico Um Dia Muito Especial (Una Giornata Particolare, Ettore Scola – 1977) e do mais recente O Reino (The Kingdom, Peter Berg – 2007). De qualquer maneira, a trama de Praça Saens Peña se revela prosaica e mal costurada. Em seu desfecho, por exemplo, o filme termina como se ainda faltasse um pedaço para a conclusão, deixando para a voz de um personagem fora de cena enunciar a maneira como o conflito central se resolveu. Se nem a esposa e a filha do personagem principal suportam o tédio de conviver com ele, imagine-se a platéia...
Praça Saenz Peña
Brasil 2009
gênero comédia / drama / social
estréia 22/01/2009
Distribuição Filmes do Estação
Direção Vinicius Reis
Com Chico Diaz, Maria Padilha e Isabella Meirelles

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