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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Tornatore hoje em São Paulo para primeira exibição brasileira de "Baaría"

Hoje (26/11/2009) os alunos e os professores da FAAP tiveram o privilégio de assistir à primeira exibição de "Baarìa", a última obra de Giuseppe Tornatore (acima, com a atriz Margareth Made). Ele concorre ao Oscar com este trabalho monumental, em termos de produção e escopo narrativo, porque aborda a história de um camponês da Sicilia, desde o início do regime fascista até os anos 70. A trajetória do protagonista Peppino Torrenuova (Francesco Scianna), provavelmente inspirado em seu próprio pai, serve de fio condutor para uma série de episódios em que o autor de "Cinema Paradiso" revela a sua visão acerca daquele período e de sua cidade natal: a siciliana Bagheria. Um pouco como Felini em em "Amarcord", o cineasta deixa que a memória seja contaminada pela fantasia e pelo impulso poético, com resultados magnificados pela música de Ennio Morricone.
O personagem central é um camponês "de dentes fortes e cérebro nem tanto". Especialmente belo e saudável, ele desenvolve força de vontade e firmeza ideológica, mas não demonstra queda para os estudos e permanece um semi-analfabeto. Faz uma carreira impecável dentro do Partido Comunista, sem qualquer revisionismo ou tramóia e também (ou por isso mesmo) sem nenhuma vitória eleitoral. Com uma única esposa, criou 5 filhos, sendo um deles tão apaixonado por cinema que colecionava fotogramas, como se fossem figurinhas.
Após o filme, o diretor e a protagonista Maragareth Made participaram de um debate com o público presente. A uma pergunta sobre o seu papel no "atual renascimento do cinema italiano" respondeu que o cinema de seu país jamais esteve morto. Ao contrário, tem demonstrado indiscutível vitalidade e capacidade criativa ao resistir às crescentes dificuldades econômicas, políticas e administrativas enfrentadas nas três últimas décadas. Afirmou que o principal entrave da situação presente é o fato dos avanços tecnológicos terem favorecido a pirataria. Lembrou que "aqui, como na Itália, qualquer criança pode baixar um filme inteiro pela internet antes mesmo de seu lançamento nos cinemas. E isso mostra-se ainda mais perverso agora, que as bilheterias das salas de exibição tornaram-se apenas uma parte marginal das receitas que cada produção deveria obter".
Tornatore surprendeu a todos com um dado estarrecedor sobre um levantamento financeiro realizado recentemente na Europa: em média, para cada título lançado, o negócio da pirataria arrecada praticamente a mesma quantia do que o conjunto de todas as atividades econômicas legais envolvidas em cada lançamento -- da pré produção à pós produção, passando pela divulgação, distribuição, os anúncios e até a pipoca vendida na ante-sala dos cinemas.

"Em resultado dos baixos rendimentos de cada estréia, diminuem os investimentos e todos os produtores procuram gastar cada vez menos em cada empreendimento. Fazem-se filmes com orçamentos sempre menores. Com poucos atores, portanto menos personagens e histórias de menor alcance, locações mais baratas, cenários mais pobres e equipes menos numerosas e menos qualificadas. Esse caminho de retração não pode ser bom para o cinema e, por isso, não pode continuar."
Para ele as ações voltadas para a co-produção refletem um movimento positivo no sentido de reagir à crise de receitas. "Nunca tinha ouvido falar tanto quanto agora a respeito de propostas de co-produção com o Brasil", diz ele tentando elevar o ânimo da platéia.
"Tenho esperança de que, assim como a pirataria surgiu por meio da tecnologia, o próprio saber tecnológico nos ofereça a solução para esse problema."
Fiz uma pergunta a Tornatore, tentando decifrar um símbolo visual que aparece na última cena do filme: um menino tem o seu pião quebrado ao meio numa disputa, mas, de seu interior surge uma feliz surpresa. Felizmente para minha auto-estima, ele respondeu favoravelmente à minha análise: "A sua interpretação está correta. O filme de fato se concentra numa história de paixão e entrega à vida que parece ser a de um perdedor. Apenas parece, porque o protagonista é na realidade alguém que fracassa no aspecto público de sua trajetória, mas triunfa plenamente em termos pessoais. Você leu muito bem o que o filme diz". Com isso, ganhei o dia e também uma chave para entender melhor outros roteiros, tantos quantos focalizem histórias de sucesso.

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